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“Os miúdos da terra quererem representar o Académico de Viseu”

Entrevistado: António Albino, presidente do Académico de Viseu

Portugal Sport: O presidente é o responsável pelo clube desde o renascimento da instituição. O que é que o motivou a assumir o destino do Académico de Viseu numa fase tão complicada?

António Albino: Fui eu que dei o corpo e alma a este clube numa altura muito complicada. Em 2005 o CAF (Clube Académico de Futebol de Viseu) foi à insolvência e ninguém quis pegar no clube. Como sou academista desde os meus 10 anos senti que era a minha vez de aguentar o Académico e já se passaram mais de 15 anos.

Começamos no distrital. Depois fizemos uma parceria com um clube que estava mais endividado que o outro Académico, e ficamos na divisão de honra de Viseu. Essa parceria foi embrião para que o Académico voltasse a surgir. A partir dai começou a nossa luta até chegarmos aqui. Subimos praticamente todos os anos até chegarmos à 2ª Liga, já lá vão 13 anos.

PS: Faltou um pequeno passo para colocar o Académico no principal patamar do futebol nacional.

AB: Estive perto de subir à primeira Liga, infelizmente não aconteceu e serviu para resfriarmos um pouco as nossas ambições. Queremos chegar lá, mas não podemos dar um passo maior que a perna. A segunda Liga é muito competitiva e temos um grave problema: das equipas que disputaram a segunda Liga esta temporada, quase todas são SAD. Os custos desta Liga são muito elevados e não conseguimos viver apenas do pagamento dos associados. Daí a necessidade de um investidor.

Nenhum clube da segunda Liga gasta menos de um milhão e meio ou dois milhões de euros.

PS: Atualmente a principal responsabilidade do presidente é a formação?

AB: Neste momento com o futebol profissional entregue a outra entidade, estou dedicado à formação do clube. Neste momento a formação não passa um bom momento, porque não há futebol em Viseu há mais de um ano. Se não há jogos, não há sócios, não há contribuição nenhuma. Hoje temos menos de 800 sócios.

PS: A pandemia prejudicou o trabalho que tentaram desenvolver para a formação?

AB: A formação parou toda por causa da COVID-19. E a segunda Liga também. Neste momento temos cerca de 250 atletas. Desde os seis anos até aos juniores B, que pertencem ao clube. Precisamos de mais jovens neste momento. Temos muitos clubes de formação em Viseu e já nem há campos para se treinar como deve de ser.

Antigamente os estádios eram só para o Académico de Viseu, hoje há clubes por todo o lado e temos de alugar campos nos arredores para os nossos atletas treinarem. Seja como for, quando vendi os 51% da SAD fiz com a convicção que se iria investir na construção de uma academia para o clube. Não há nenhum clube que viva sem formação.

Ainda outro problema. Hoje um jovem que dê nas vistas aos 15 ou 16 anos, tem logo uma série de olheiros atrás deles. E os próprios pais fazem questão de levar os miúdos ao SC Braga, ao Boavista, FC Porto, Benfica, etc. É difícil segurar os bons talentos que aparecem.

PS: A captação torna-se difícil nessas condições?

AB: Na captação não temos dificuldade. Somos um clube centenário, com grande credibilidade e toda a gente aqui quer jogar no Académico de Viseu.

PS: É uma ambição para um miúdo criado em Viseu, representar as cores do Académico?

AB: Sim, esse é o objetivo da criança de Viseu. Mais tarde ou mais cedo os miúdos da terra quererem representar o Académico de Viseu.

PS: Que análise consegue fazer neste momento em relação às equipas de formação do clube?

AB: Temos a maioria das equipas a disputar os nacionais. O nosso grande objetivo é ter uma formação melhor para estar sempre nos nacionais em todos os escalões. Com os juniores A na SAD, ainda conseguimos ter a equipa B nos nacionais, sendo que é complicado conseguir manter toda esta estrutura num patamar muito elevado. Existe uma logística muito pesada financeiramente, é preciso autocarro, gasolina, e já ninguém trabalha de borla para os clubes.

PS: As modalidades continuam a ser um dos motivos de orgulho da instituição?

AB: Temos o andebol que está a querer subir à primeira divisão e temos a natação que também é uma grande referência a nível internacional. Ainda agora foram homenageadas duas atletas da natação e é sempre uma modalidade bastante prestigiante.

No andebol ainda temos a formação o que significa que o clube num total acaba por agregar cerca de 400 ou 500 pessoas. É um gigante.

PS: Existe possibilidade de abrir portas a novas modalidades, como por exemplo o futsal ou o futebol feminino?

AB: Em Viseu temos dois problemas. As condições de treinos. Só temos o campo para os seniores e um de treino para os miúdos, que às vezes saem dos treinos às 23h. E há tantos clubes em Viseu que não há campo para todos. Não temos futsal nem futebol feminino porque não temos campo para isso. Há pelo menos um compromisso da construção da Academia por parte da SAD, que nos permite sonhar.

PS: As forças municipais apoiam devidamente o Académico?

AB: A Câmara dá uma comparticipação a todos os clubes, e o Académico não é exceção. O valor dessa comparticipação depende do número de atletas que clube tem. Se tivéssemos futebol feminino tínhamos mais apoio por isso mesmo. E mesmo como entidade formadora se calhar tínhamos mais estrelas na nossa cotação.

PS: Como sócio e adepto do clube, quais são as grandes memórias que guarda enquanto academista?

AB: Como sócio, guardo como boas recordações quando estivemos na primeira divisão nacional. Tenho a recordação triste quando tivemos Viseu em peso em Espinho e precisávamos de ganhar para subir para a primeira Liga. O Torreense de Manuel Cajuda estava a jogar à mesma hora e se ambos os jogos terminassem empatados, o Académico de Viseu subia na mesma. O nosso jogo termina empatado e a alegria era enorme. Um minuto depois o Torreense marca um golo a fechar o jogo deles e há uma tristeza imensa no povo academista. Morremos na praia nesse dia.

Temo uma memória importante em Caldas da Rainha, quando subimos à Segunda Liga, tínhamos Viseu lá em peso e dessa vez vencemos o jogo.

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