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Académica de Coimbra: “Se jogasses no céu, morreria para te ver”

Quem passa por Coimbra não esquece a Briosa. A Académica de Coimbra é uma das mais importantes instituições do nosso país, até porque em atividade é de facto o clube mais antigo em Portugal. A ligação à Universidade é indissociável, apesar da Académica na vertente do futebol profissional ser um organismo autónomo desde 1984 (A AAC abandonou o futebol 1974).

Pensando na história desta instituição, há um momento que, porventura, se pode sobrepor a todos os outros: 22 de junho de 1969. Esta data marca um dos dias mais importantes do futebol português, uma vez que a Académica foi ao estádio nacional disputar a Final da Taça de Portugal, em plena crise estudantil.

Numa altura em que se vivia um clima de guerra entre regime e estudantes, a Briosa apareceu no Jamor em peso, para assistir à grande final entre a Académica e o Benfica de Eusébio. Nesse dia, e ao contrário do que aconteceu nas outras finais da Taça, o presidente da República Américo Thomaz e outros representantes do governo não compareceram ao Jamor, e o próprio jogo não foi transmitido na televisão.

Apesar desta censura, os estudantes procuraram pela melhor oportunidade para expor as suas tarjas anti-regime, com vários adeptos a serem presos ainda antes do inicio da partida.. Os jogadores da Académica por sua vez também aderiram ao movimento estudantil e entraram em campo com uma capa académica aberta e caída, em sinal de protesto. Curiosamente o Benfica juntou-se também ao protesto e os jogadores encarnados entraram também de capa ao ombro, um comportamento que foi aplaudido no estádio nacional. Durante todo o jogo circularam cartazes antifascistas, contrariando as movimentações da polícia ao longo de todo o encontro, que desesperadamente lutava contra a ousadia dos estudantes. Em todo o Estado Novo, este dia tornou-se num dos maiores comícios contra uma ditadura de mais de 40 anos.

O Académica – Benfica no Jamor em 1969 marcou uma geração, criou uma posição política e demonstrou que a cinco anos da revolução, já o país começava a perceber, que o regime estava “podre”. Nesse dia a Académica não venceu a Taça (tinha conseguido esse feito em 1939, repetindo a façanha em 2012), mas tornou-se num símbolo de luta pela liberdade, e de crítica, numa fase da história onde tais palavras era proibidas.

Entre o céu e o purgatório

Se a história da Académica é vista como um grande ato de heroísmo, os últimos 20 anos foram de altos e baixos, quase ao ritmo de uma montanha russa, com várias subidas e descidas de divisão registadas, entre a primeira e a segunda Liga. No final desta temporada, a Briosa viveu um momento verdadeiramente desastroso ao descer para a recém criada Liga 3, que tira o clube dos patamares profissionais. Importa relembrar que 10 anos antes, a Académica venceu o Sporting no Jamor e conquistou a Taça, com jogadores como Adrien Silva, Éder e Cedric a representar o preto dos academistas. Estes três jogadores seriam quatro anos depois campeões europeus por Portugal em França. Além da notória perca de qualidade nos últimos 10 anos, o que torna a situação da Académica ainda mais grave é o facto de que, em 134 anos de história, esta foi a primeira vez que a Académica desceu matematicamente à terceira divisão nacional do futebol.

Face a esta situação, a Académica OAF irá a votos no próximo dia 4 de junho, numa altura em que se especula que o OAF será transformado em SAD (Sociedade Anónima Desportiva), algo que até ao fecho desta edição ainda não foi confirmado.

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