“O Valadares é o clube a nível nacional com mais praticantes de futebol feminino reconhecido pela FPF”
Entrevista a José Manuel Soares, presidente do Valadares-Gaia
Portugal Sport: O Valadares-Gaia é um clube que está a apostar no desenvolvimento do futebol feminino, um fenómeno que está em franco crescimento em Portugal. Qual é a opinião do presidente em relação à evolução do futebol feminino em Portugal nos últimos anos?
José Manuel Soares: Temos o futebol feminino desde 2012, sendo que o Valadares-Gaia existe desde 2011. Ao fim de um ano decidimos que o Valadares-Gaia seria um projeto diferenciador e que não iria ter apenas o futebol masculino nas suas secções. Queremos desenvolver o futebol feminino, representar a modalidade dentro do terceiro maior concelho do país e ser um símbolo de inovação, comparativamente com os outros clubes.
Numa fase inicial a nossa ideia era ter apenas o futebol feminino sénior, mas começaram a aparecer meninas de todas as idades e o Valadares é o hoje o clube a nível nacional com mais praticantes de futebol feminino reconhecido pela Federação Portuguesa de Futebol. Temos todos os escalões todos de formação, sub-11, sub-13, sub-15, sub-16, sub-17, sub-19, equipa B sénior, que disputa a segunda divisão nacional, e a equipa A que está na Liga BPI.
Passados 10 anos, o futebol feminino evoluiu, tal e qual como aconteceu com o futsal há uns anos atrás. As entradas do Benfica e do Sporting, do SC Braga e do Famalicão, vieram trazer uma maior competitividade ao feminino e neste momento a competição é muito mais intensa, muito mais competitiva. Atualmente e utilizando uma expressão nortenha, estamos a fazer das tripas coração para nos mantermos na Liga BPI, com as limitações que temos. Da nossa parte temos a vantagem de ter um projeto com 10 anos consolidado e com credibilidade, algo que joga a nosso favor. Não entramos no futebol feminino por uma questão de moda, nem por exigência da UEFA ou da FIFA. O futebol feminino apareceu no clube porque nós assim o quisemos e entendemos que devíamos criar uma perspetiva de futebol para todos, privilegiando a igualdade entre géneros.
PS: O Valadares-Gaia aposta hoje na jogadora portuguesa? Ou preferem ir contratar lá fora?
JMS: Temos assistido a um fenómeno interessante nos últimos anos: a maior parte das atletas hoje já tem agentes. Respeito muito as atletas do futebol feminino mas a verdade é que estão a inflacionar o mercado, porque não existe equilíbrio entre quantidade e qualidade e o valor das jogadoras portuguesas está cada vez mais elevado, numa altura em que o feminino ainda está a crescer em termos qualitativos e de profissionalização.
As coisas estão a acontecer depressa demais e a evolução devia ter começado na base, na formação, e estamos a inverter a pirâmide. A FPF tem um projeto muito inteligente e que vai ser muito bom para o futebol feminino português, mas a verdade é que nós temos muita dificuldade em chegar a atletas nacionais com qualidade, porque não temos um orçamento comparável aos quatro clubes citados na outra questão. Mesmo o Marítimo e o Torreense tem uma capacidade de investimento que nós não conseguimos acompanhar.
Como a qualidade ainda não está ao nível da qualidade, o nosso trabalho passa por trabalhar um misto, utilizando o máximo de jogadoras estrangeiras permitidas. Temos neste momento sete americanas e uma sueca, que trazem experiência, qualidade, entre outros atributos que as jogadoras portuguesas ainda não tem, nomeadamente a robustez física. O futebol feminino nos Estados Unidos está muito bem desenvolvido, com uma base de prospeção muito superior quando comparado com a realidade portuguesa. O mercado americano e canadiano agrada-nos imenso, as próprias atletas são mais comprometidas e focadas do que jogadoras de outros mercados estrangeiros. Precisamente por isso hoje o Valadares-Gaia tem um protocolo com uma academia americana de futebol, com quem temos uma parceria e de onde vem as nossas atletas americanas.
PS: Passando a bola para o futebol masculino, qual é o projeto do Valadares-Gaia nesse departamento?
VMS: O Valadares-Gaia teve uma ascensão muito rápida. Em seis anos o clube subiu cinco divisões , desde a segunda distrital até ao Campeonato de Portugal. O Campeonato de Portugal continua a ser muito exigente, não só do ponto de vista financeiro mas também em termos organizacionais.
Estamos à espera de uma obra que vai revolucionar por completo o complexo desportivo do clube. É uma obra que já devia ter começado o ano passado, mas a empresa que ganhou o concurso entrou em insolvência, o que nos obriga a lançar um novo concurso e a perder um ano, ano e meio. Atualmente não temos uma bancada coberta, tem contentores como balneários metálicos há 12 anos. O executivo da Câmara há doze anos disse que era uma situação para apenas dois, três anos, mas já se passaram doze… Seja como for vem aí uma bancada coberta, um auditório, um ginásio, balneários novos e dignos. As infraestruturas foram a parte do clube onde não conseguimos acompanhar o crescimento do Valadares-Gaia e precisamos mesmo de resolver isso.
Nos nossos seniores masculinos não escondo que queremos alcançar a Liga 3, tivemos perto no primeiro ano. Vamos lutar por isso, mas o objetivo principal passa por numa primeira fase garantir a manutenção no Campeonato de Portugal. Estar nos nacionais é muito importante para o clube. O Valadares-Gaia tem cinco equipas nos nacionais, não é fácil para um clube que tem 21 escalões de competição, ter cinco equipas no nacional. Aproveito para relembrar que este ano e pela primeira vez na história do clube, estamos a disputar a segunda divisão nacional de sub-19. É a primeira vez que temos um escalão masculino num nacional e conseguimos isso num meio de 70 ou 80 clubes da AF Porto e sermos os melhores juniores entre todos foi um feito magnifico.