Futebol

“O FC Famalicão é um clube de paixão”

Entrevistado: Vítor Paneira, antigo internacional português

Portugal Sport – Hoje é percetível que o FC Famalicão é um clube com uma estrutura totalmente diferente de anos passados. Refletindo sobre o tempo em que representou as camadas jovens do clube, que diferenças é que encontra naquilo que é o FC Famalicão em 2022?

Vítor Paneira – É uma diferença abismal. No meu tempo o FC Famalicão tinha apenas o campo principal, onde ainda hoje joga e nós treinávamos em vários locais. O FC Famalicão tinha na altura iniciados, juvenis e juniores. Hoje a formação tem muito mais capacidade. Na minha altura jogávamos em alguns pelados, onde todos tínhamos todos de fazer enormes sacrifícios devido à falta de infraestruturas.

Cresci sendo famalicense, vi o FC Famalicão jogar na primeira divisão nacional, acompanhava o clube sempre que podia. Tenho a memória da primeira subida do clube, a atmosfera vivida era absolutamente contagiante… O FC Famalicão era um clube de paixão, a cidade de Famalicão adora o clube, adora futebol, o que acaba por ser contagiante. Em qualquer circunstância o FC Famalicão leva sempre muita gente.

Hoje, com esta academia, o clube tem uma dimensão incomparável a outros tempos, aliás, o FC Famalicão é hoje um clube com uma enorme dimensão. Recordo-me, que há uns anos, o FC Famalicão estava no distrital e prestes a fechar portas, o Carreira assumiu o clube e foi aí o inicio do novo FC Famalicão. No distrital o clube já levava 5 mil adeptos aos jogos, logo aqui se vê a ligação entre a instituição e a cidade. Hoje, temos o Jorge Silva como presidente e estamos a falar de uma pessoa extraordinária. O que ele fez pelo clube, os sacrifícios pessoais em prol desta casa, levou o FC Famalicão a uma dimensão nunca antes vista.

PS – O FC Famalicão acabou por seguir o exemplo de vários clubes do Minho, ao alcançar a primeira Liga no futebol profissional. Que justificação é que o Vítor encontra para que o futebol de alto nível esta tão centrado nesta região?

VP – Os clubes daqui tem uma enorme massa associativa. Além dos que estão na Liga BWIN, temos também o Fafe com uma massa adepta brutal, tal como o Tirsense e o Varzim aqui ao lado. Estes clubes tem peso porque tem massa associativa e é este tipo de massa que faz com que o clube cresça. A exigência é logo outra, a cobrança dos adeptos também e os clubes tem de acompanhar essa mesma exigência.

O Minho é uma zona onde há industria, há dinheiro. Famalicão é uma das principais cidades exportadoras do país, e tudo isso faz com que o FC Famalicão seja um clube equilibrado, sustentável, diferenciando naturalmente aquilo que é o clube e aquilo que é a SAD. Como clube, há património e há uma possibilidade em olhar para o futuro com uma perspetiva totalmente diferente.

PS – O FC Famalicão é hoje um clube mais atrativo para um miúdo querer jogar futebol?

VP – A academia fez com que o clube desse um salto na formação, como nunca tinha acontecido. Houve aqui uma aposta do presidente, que começa a dar frutos. Aliás, no feminino, o FC Famalicão já é uma das melhores equipas do país.

Com estas condições, qualquer clube tem tendência a melhorar. Ao juntar-mos a isso a massa adepta do clube, o potencial torna-se ainda maior.

PS- No futebol profissional, o que é que o FC Famalicão precisa para dar a volta nesta segunda metade de campeonato?

VP – O futebol profissional já é uma coisa distinta. Quem gosta do FC Famalicão gosta naturalmente do FC Famalicão SAD, e percebemos que o primeiro ano ocorre de um ciclo de vitórias. O primeiro ano do FC Famalicão na primeira Liga, a equipa faz uma época extraordinária, e não chega à Europa, no último minuto, da maneira como se devem recordar. Depois há uma quebra. Os planteis não responderam da mesma maneira, embora haja bastante qualidade no plantel do FC Famalicão, mas é preciso que a equipa encontre estabilidade. Estes reforços de inverno foram na minha opinião cirúrgicos mas bons, acho que o FC Famalicão fica mais forte, mas o campeonato está muito equilibrado.

Acredito que o FC Famalicão vai conseguir a manutenção, o que é muito bom. O mais importante é o FC Famalicão conseguir a cada ano que passa, cimentar-se como um clube de primeira Liga.

PS – A situação que o FC Vizela atravessa hoje, é muito parecida com a que o FC Famalicão atravessou quando regressou à primeira Liga?

VP – É uma situação muito parecida. O próprio Arouca entra muito bem no campeonato, porque vem de um ciclo de vitórias. São clubes que trazem o andamento do ano passado e no caso do FC Vizela a temporada está a correr muito bem.

PS – Que memória é que o Vítor guarda dos anos em que representou as cores do FC Famalicão?

VP – Tenho memórias até como adversário do FC Famalicão. Quando cá joguei era miúdo, mas desisti de jogar após uma partida, onde vencíamos por 4-1, eu ia a entrar já na parte final do jogo, mas acabei por não entrar e fiquei no centro do terreno. O meu pai ficou um bocado zangado e eu aproveitei aquilo para parar de jogar dois ou três anos. Comecei a jogar novamente no Rio Pele no juvenis, depois fui para os juniores do FC Famalicão e tínhamos uma excelente equipa.

Fizemos uma temporada incrível nos juniores, fomos a Chaves ganhar 3-4, com o nosso avançado a marcar quatro golos. Mas tenho ainda mais recordações como adepto. De acompanhar os jogos com o meu irmão e o meu pai. Tenho também na memória o célebre jogo em que o FC Famalicão consegue a subida ao vencer o Macedo de Cavaleiros, sendo depois comunicado que o clube não iria subir. Foi um dia em que a cidade se mobilizou e foi para Lisboa, na altura já era jogador do Benfica e também fui à manifestação. São coisas que nos marcam, é a minha cidade e a minha gente.

PS – O Vítor chegou a regressar ao clube no papel de treinador…

VP – Eu tive aqui no tal inicio… quando o clube estava quase extinto. Na altura há uma comissão que toma conta do clube, com o Carreira, e eu fui o treinador dessa equipa. Depois conseguimos subir à 3ª divisão nacional.

Depois vim cá como treinador do Varzim, num jogo quente. Os clubes tem uma rivalidade, estavam ambos a discutir uma subida direta, a diferença entre os dois era de um ponto apenas. Estavam 10 mil pessoas no estádio, o jogo acabou 2-2 e eu fui recebido de forma hostil. São coisas normais no futebol, mas felizmente no final desse ano ambos os clubes subiram.

PS – O FC Famalicão tem uma aposta séria no futebol feminino. O futebol feminino por sua vez é um fenómeno a crescer em Portugal. O Vítor acompanha o futebol feminino e acredita que estamos a caminhar para a profissionalização?

VP – O caminho será esse. O feminino no mais alto nível já é profissional. O investimento do Benfica e do Sporting já revelam fortes ambições no futebol feminino. O FC Famalicão aparece a consegue logo reforços importantes. Mostrou que queria ser uma equipa forte no futebol feminino e está a dar cartas. Acho que toda a gente no clube está contente com o que tem sido o crescimento desta equipa, que tem um orçamento que já pesa. Muitas vezes as pessoas confundem o clube com a SAD, mas isto é um investimento do clube.

O presidente do FC Famalicão tem sido inteligente na forma como vai gerindo o clube, sem perder a estabilidade que o FC Famalicão conseguiu de há uns anos a esta parte.

PS -Na sua ótica, quais são a partir de agora os grandes desafios que o FC Famalicão vai ter pela frente?

VP – Falando no FC Famalicão como um todo, existe uma academia que tem potencial para fazer crescer a instituição. Há uma aposta grande na formação de jogadores e pelo que me parece, o FC Famalicão está a trabalhar para no futuro ser uma equipa mais forte na primeira Liga. Mas as coisas não são tão simples assim, há clubes com orçamentos mais elevados, um poderio que o FC Famalicão não tem.

O que o FC Famalicão já tem é todo um potencial para conseguir crescer mais e ser mais forte. Daqui a uns anos acredito que vai estar a lutar por uma lugar cimeiro na tabela classificativa.

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