“Queremos elevar o nome da cortiça”
Entrevistado: José Carlos, fundador, dirigente e jogador do Florgrade FC
PS – Como surgiu a Florgrade FC?
JC – Surgiu através do nome da minha empresa, Florgrade, que trabalha no ramo da industria corticeira. Como fui jogador de futebol, passei por FC Porto, U. Lamas, L. Lourosa, tive sempre a paixão pelo futebol. Tive de abandonar o futebol por causa da minha atividade profissional, mas ficou sempre aquela vontade de fazer algo mais.
Com amigos e família, continuava a fazer uns jogos naqueles campos de futebol de sete, até me surgir a informação que havia umas ligas empresariais, as chamadas superligas internacionais de futebol de sete. Inscrevemos uma equipa, começamos a competir em 2014 e o sonho começou ai. Começamos a ganhar vários torneios, o projeto tornou-se cada vez mais sério e em 2019 entramos no futebol federado.
PS – Como foi a transição para o futebol federado?
JC – Nós já estávamos a levar a competição muito a sério no futebol de sete, e sem menosprezar ninguém, equipas e organização, sentimos que não havia mais nada para ganhar. Sentíamos que estávamos a mais naquele tipo de competição e quisemos dar um passo em frente.
O meu pai foi presidente do U. Lamas, o meu tio Vítor foi diretor geral do L. Lourosa, eu também já tinha alguma experiência no dirigismo e então decidimos apostar nas ligas federadas de futebol de 11.
PS – Para quem não conhece, a Florgrade FC entrou no futebol com uma grande ambição?
JC – Entramos com ambição, obviamente. Entramos com uma espinha dorsal que vinha das ligas do futebol de sete, pessoas que eram experientes no futebol de 11, com muita qualidade, o que nos permitiu subir rapidamente de divisão. O ano passado na 1ª distrital já foi complicado, os moldes do campeonato mudaram por causa da pandemia, com playoffs. Fomos felizes mais uma vez, estamos agora na divisão de elite, a competir com históricos do futebol, como o U. Lamas e o Beira-Mar.
É um orgulho estar na elite de Aveiro, mas não queremos ficar por aqui. Temos um projeto ambicioso, com alicerces, feito sem loucuras, mas queremos claramente um dia chegar ao patamar máximo do futebol nacional. Não é no imediato, mas queremos lá chegar. Sabemos que cada ano que estivermos estagnados numa divisão é um ano de prejuízo, porque o futebol não dá lucro a ninguém nestes patamares.
PS – A pandemia apareceu em 2020 e interrompeu o campeonato disputado, bem como terminou com a assistência nos estádios, assim que as atividades foram retomadas. Isso trouxe consequências para as ambições da Florgrade FC?
JC – O primeiro e o segundo ano foram um prejuízo muito grande para o clube. Não tivemos receitas, a nível financeiro foi um descalabro para todos os clubes, incluindo para nós. Somos um clube novo, temos de criar os nossos próprios adeptos, não estamos contra ninguém, queremos conquistar pessoas de todas as terras, crescer….e sem poder ter adeptos, a nossa missão de crescimento ficou mais difícil. Felizmente temos a CorkTV, que é um investimento nosso, sendo que os jogos da Florgrade FC dão todos na televisão, com exceção de jogos fora, quando os nossos adversários não autorizem as filmagens.
Estamos a tentar chegar ao maior número de pessoas possíveis, as nossas redes sociais já tem um alcance enorme, a pandemia travou-nos um bocadinho mas não a 100%. Estamos a crescer muito.
PS – Já sentem que há pessoas a seguir e a acompanhar o clube?
JC –As pessoas de Cortegaça e do concelho de Ovar estão connosco e não pode ser só com as nossas famílias que o clube vai crescer. Precisamos das pessoas da terra, seja de Cortegaça, Esmoriz, Ovar, Paços de Brandão, Rio Meão, Lamas, Lourosa.. estamos a conseguir adeptos dessas terras e isso é uma ajuda importante no crescimento do clube.
PS – Existem planos relativamente à formação, sob a alçada da Florgrade FC?
JC – Estamos a trabalhar com o FC Cortegaça, um clube formador de excelência, a nossa intenção é manter esta parceria por muitos anos. Este ano demos um passo em frente, criamos os sub-22, Florgrade FC e FC Cortegaça em conjunto, para os miúdos que saem dos juniores terem uma oportunidade de continuarem o seu crescimento, e os clubes para serem sustentáveis tem de ter formação. Incluindo nós e a curto/médio prazo queremos estar cada vez mais presentes na formação.
PS – O futebol feminino também cresce a passos largos. Está nos planos a introdução de uma equipa de futebol feminino?
JC –Nós consideramos que a Florgrade FC e o FC Cortegaça são como se fossem um só clube. Estamos aqui para ajudar o FC Cortegaça no que for preciso, eles já tem o futebol feminino, este ano surgiu a oportunidade de entrarmos juntamente com o FC Cortegaça, mas a nível logístico não foi possível. Mas não colocamos de parte investir no futebol feminino.
PS – Sendo o clube ainda muito recente, o apoio municipal será uma ajuda no alavancamento deste projeto?
JC: Estávamos em Santa Maria da Feira, nada contra, mas foi em Cortegaça que começamos a ser tratados como se estivéssemos em casa e somos hoje um clube do concelho de Ovar. Dessa forma acreditamos que a Câmara Municipal de Ovar será um aliado muito importante no futuro do nosso clube.
PS -Ovar tem vários clubes, incluindo a Ovarense que é um histórico. Há espaço para todos no concelho?
JC –Santa Maria da Feira está sobrelotado a nível de clubes. Ovar tem seis, sete clubes, o Ovarense, o Esmoriz, o Avanca, São Vicente Pereira, Válega … Nós acreditamos que poderemos trazer coisas bonitas para este concelho.
PS – O projeto que está definido para o crescimento da Florgrade FC, pode ser comparado com o que aconteceu no L. Lourosa?
JC – O L. Lourosa é um grande clube, mas o nosso projeto não se enquadra no que fez o Lusitânia. O nosso projeto é começado do zero, onde queremos criar alicerces, onde pensamos em exemplos maiores como o Leipzig RedBull. Um dia queremos chegar aos profissionais, com a Liga 3 existe mais um passo para subir, mas havemos de lá chegar e não vamos esperar nem 100 nem 50 anos.
PS -As infraestruturas modernas e evoluídas refletem a ambição deste clube?
JC – Sim. O nosso conceito é o seguinte: tudo em que nos metemos é para ser feito com níveis de excelência. Em termos de obras e infraestruturas é exatamente igual. Não faz sentido investir em infraestruturas para desenrascar. O que construimos foi já a pensar no futuro.
É evidente que para o clube crescer, um sintético não chega, temos vindo a falar com a Câmara de Ovar e com o FC Cortegaça, e precisamos de um estádio.
PS – O plantel que constitui a Florgrade FC em 2022, é o mesmo que começou em 2019?
JC –No primeiro ano basicamente transitamos com o pessoal do futebol de sete. No segundo ano demos uns ajustes e este ano demos novos ajustes. A nossa ideia é nunca mexer muito. Vamos acrescentar por ano quatro, cinco peças, sempre com qualidade e a virem para jogar de forma preponderante. Mantendo a base de quem criou a Florgrade FC.
PS – Face a toda esta estrutura altamente qualificada, o Florgrade FC é hoje um clube atraente para os jogadores?
JC – im. Em primeiro lugar sentimos que somos respeitados por todos os clubes, sinceramente. Em termos de jogadores, noto uma grande vontade neles em representar a Florgrade FC, quer pelas condições que temos, quer pela organização que o clube tem. Não faltamos com nada aos jogadores e eles muitas vezes neste patamar dão preferência ao conforto e a tudo o que possam usufruir em termos técnicos, do que propriamente pelo dinheiro em si.
PS -Os jogadores são todos do distrito de Aveiro?
JC – A maior parte dos jogadores são do distrito de Aveiro e temos muitos que já jogaram na segunda Liga e Campeonato de Portugal. Este ano abrimos o leque de prospeção para a zona do Porto.
PS – A divisão de elite, está a ser mais complicado do que esperavam?
JC – A elite é um campeonato de grande qualidade. Tenho a certeza que 70% destas equipas não desciam de divisão no Campeonato de Portugal. É um campeonato muito equilibrado, onde é preciso aliar a experiência a miúdos que tenham forte ambição futebolística.
PS: Qual é o vosso grande objetivo para o que resta da temporada?
JC: O nosso grande objetivo este ano era conseguirmos fazer o melhor possível. Conseguimos o apuramento para a fase do campeão, mas temos ambição para mais. Queremos o primeiro, não sendo o primeiro possível, queremos o segundo. Jogo a jogo, entramos em campo para ganhar sempre.
Na segunda fase vamos usufruir da experiência de jogar em estádios maravilhosos, seja em Lamas, seja no Municipal de Aveiro, Águeda… vamos é sempre com o objetivo de elevar o nome da Florgrade. O primeiro lugar é muito complicado, o Beira-Mar tem uma excelente equipa, uma grande estrutura, enquanto for possível lutamos pelo primeiro, mas quando não for, lutaremos pelo segundo.
Estamos também na Taça de Aveiro, que queremos ganhar. A Taça de Aveiro dá direito a entrar na Taça de Portugal e isso seria maravilhoso para levar o nome da Florgrade e o nome da cortiça a mais pessoas. A nossa empresa é de cortiça e como clube também queremos elevar o nome da cortiça o mais longe possível. A empresa e o clube vão estar sempre interligados, até por causa das conexões que temos no nosso setor de atividade. O nosso objetivo em associar o futebol à cortiça é fazer com que a cortiça seja levada a bom porto, que seja fala pelos bons motivos, pelo sucesso que a Florgrade FC vai conseguir ter desportivamente.
PS – Os resultados dos anos anteriores, criaram demasiadas expetativas nas pessoas para esta temporada?
JC – É verdade. Este ano tivemos a nossa primeira derrota e depois da primeira vieram quase quatro ou cinco seguidas. Abanamos um bocadinho numa altura onde a exigência já é grande. As pessoas exigem mais do Florgrade FC, porque estão habituadas a ver o clube ganhar.
Quando perdemos houve claramente uma falta de conhecimento dos nossos jogadores em relação ao nível do campeonato que estamos a disputar. Da primeira distrital para a elite a diferença é enorme, chega a ser surreal. Aqui ninguém pode facilitar. Vínhamos da primeira a ganhar a toda a gente e na elite começamos a ter dificuldades. Tivemos de mudar o chip para conseguir o apuramento. O campeonato é bom, pode-se ganhar ao primeiro, perder com o último e nós somos o maior exemplo disso.
Temos um novo treinador, com 24 anos, com experiência em formação de clubes da Europa, que não tinha conhecimento deste campeonato mas que vem com ideias novas e vamos entrar em todos os jogos para ganhar.
PS – Onde vê o clube a longo prazo?
JC -Em 10 anos queremos estar na primeira Liga de futebol. Se me disserem que em quatro ou cinco anos estamos na segunda Liga, fico satisfeito.