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Um amor sem divisão

Há 97 anos a formar campeões, a Associação Desportiva Sanjoanense foi a casa de muitos nomes consagrados do desporto nacional. No futebol, jogadores como António Sousa, Carlos Secretário, Vermelhinho, António Veloso, Gil Dias, Bruno Chagas, chegaram a vestir a camisola negra da ADS. Treinadores como Vítor Pereira, Pepa e Luís Castro, também deixaram a sua marca em São João da Madeira.

Hoje, a Sanjoanense tem uma SAD no futebol e disputa os principais campeonatos no andebol e no hóquei patins, a modalidade de referência do clube e onde sempre ficou comprovado que o amor dos adeptos não depende nem de títulos, nem de divisões.

Falar da Sanjoanense nem sempre é falar de futebol. Apesar de ter disputado a primeira liga de futebol e de ser uma das principais entidades formadoras de futebol no distrito de Aveiro, a ADS é essencialmente uma coletividade representativa da população de São João da Madeira, um dos concelhos com maior dinâmica desportiva do país, sendo assim fácil de perceber a força eclética do clube. A Portugal Sport entrevistou o presidente do clube, Luís Vargas, que nos contou um pouco da sua ligação à instituição e de um momento fundamental na história desta direção, que permitiu reverter uma fase depressiva, que os sanjoanenses ainda se recordarão.

“A minha ligação com a Sanjoanense começou no basquetebol. Fui atleta dos nove anos até aos seniores. A partir daí, como não tive grande hipótese de seguir a minha vida desportiva, deixei de jogar e prossegui com outro tipo de carreira, dentro da secção do basquetebol. Fui treinador da formação, fui coordenador geral do basquetebol e vice presidente da modalidade. Sou presidente há 10 anos e já são 50 ligados a esta coletividade”, afirma o presidente da Sanjoanense, que não esquece que no principio deste século, o clube atravessou uma fase de quase insolvência. “O clube esteve quase a fechar portas e estava completamente endividado. Na altura reunimos os elementos das várias modalidades da Sanjoanense para desenvolver um projeto de salvação para clube. Tínhamos 1000 crianças a praticar desporto na ADS e não podíamos deixar deixar uma história de tantos anos e tantas conquistas, terminar”.

Com uma direção unida, os elementos responsáveis do clube deram a cara a todos os credores, fornecedores, negociaram com a banca e por uma questão de sobrevivência, a Sanjoanense deixou de ter profissionais no clube e com a ajuda das forças municipais, foram dados os primeiros passos rumo a um futuro responsável. “Estabelecemos cerca de 250 reuniões com cada fornecedor, treinador, jogador, com tudo o que estava em dívida. Financeiramente criamos acordos para salvar o clube e para manter as atividades, sem qualquer profissionalismo. Durante mais de cinco anos mantivemos este critério e gradualmente fomos regressando aos pergaminhos da ADS, com equipas de formação nos campeonatos nacionais, e nas variadas modalidades”, reforça Luís Vargas.

Luís Vargas, Presidente da Sanjoanense

O regresso aos grandes patamares

Depois de uma fase turbulenta e de um recomeçar do zero, a Sanjoanense conseguiu voltar a impor-se como um dos principais símbolos desportivos dos distrito de Aveiro. O hóquei em patins e o andebol estão na primeira divisão, sendo que no hóquei a ADS chegou a conseguir alcançar recentemente um lugar numa prova europeia. A Sanjoanense tem no palmarés uma Taça das Taças de hóquei em 1986 e a manutenção na primeira divisão é hoje um sinal de uma ADS mais forte, com respeito pelo seu passado. No basquetebol o clube mantém presença na ProLiga e no futebol disputou o Campeonato de Portugal, com ambições de entrar na nova III Liga. No que respeita ao desporto feminino, a ADS é uma presença constante na primeira divisão de hóquei em patins.

Sobre o ecletismo do clube e sobre a posição da Sanjoanense nos respetivos campeonatos, o Presidente realça que é muito importante vincar a igualdade de géneros. “A igualdade de géneros é um critério máximo nesta casa. Temos femininos em todas as modalidades, menos no futebol. Seniores e formação. Não temos no futebol porque havia condicionalismos, em termos de espaço físico. Mas temos esse projeto, a curto prazo”, garante. “O futebol está entregue a uma SAD e disputamos nos últimos cinco anos o Campeonato de Portugal. A formação está neste momento em reestruturação e nosso objetivo é regressar aos campeonatos nacionais, uma vez que a história nos diz que esse é o nosso lugar”. Neste momento o emblema de São João da Madeira está apurado para o playoff de acesso à III Liga, a nova prova desportiva, que fará a ligação entre o Campeonato de Portugal e as competições profissionais.

Dentro das modalidades do clube, a patinagem artística sofreu um grande aumento de inscrições, bem como o seu nível competitivo. A ADS confirmou que ter atletas da modalidade a um nível nacional, é o objetivo a um a dois anos. Mais recentemente surgiu no clube o bilhar, uma modalidade que “renasceu” dentro da Sanjoanense e que já venceu um título nacional. Na natação, a Sanjoanense teve uma atleta olímpica no clube até há bem pouco tempo no clube, Ana Rodrigues, que venceu vários títulos nacionais, com a bandeira da ADS. Dentro da coletividade e como modalidade de formação física existe a ginástica. De cariz social e de exibição, sem competição.

Perspetivando o futuro, o presidente da Sanjoanense confirma que “neste fase temos o objetivo de garantir a manutenção na primeira divisão no hóquei e no andebol (n.d.r. no hóquei já conseguiu a manutenção). Não temos estruturado termos mais uma modalidade na primeira divisão. O basquetebol luta pela subida, mas em termos estruturais, seria muito complicado ter mais uma equipa na primeira divisão. Mas a acontecer, essa subida será bem vinda. No basquetebol feminino talvez seja possível chegar à primeira divisão, que na hierarquia é a segunda, uma vez que ainda existe a liga profissional. Seja como for o nosso objetivo fundamental em termos competitivos é continuar a marcar a nossa posição. Sem loucuras, mas também sem despromoções”.

A Sanjoanense conseguiu terminar a fase regular da primeira divisão nacional de hóquei em patins no nono lugar, sendo este o segundo ano consecutivo que os alvinegros se mantém no principal patamar da modalidade. Num ano atípico, o balanço acabou por ser positivo, sendo que em altura de eleições existem algumas incógnitas em relação à próxima época desportiva do hóquei em patins. A atual direção da ADS garantiu que serão feitos todos os esforços para que o trabalho executado nos últimos anos não tenha sido em vão e que a modalidade continue a crescer na cidade, sem comprometer as gerações seguintes.

O Flagelo chamado COVID-19

No inicio de 2020 o novo coronavírus entrou em Portugal e deixou o país em Estado de Emergência. As atividades desportivas foram interrompidas, campeonatos cancelados, e a solução não apareceu a tempo de salvar a época seguinte. Dos 1257 atletas inscritos no clube, a Sanjoanense ficou com 970 e apenas as modalidades de primeira divisão continuaram a competir durante a temporada, sem interrupção. O basquetebol masculino, que disputa a ProLiga, parou de competir em janeiro de 2021, com o regresso do Estado de Emergência e as modalidades restantes e a formação, após meses de treino individual, também pararam e em termos competitivos, estão inativos há mais de um ano.

Com Portugal a atravessar um plano desconfinamento, Luís Vargas, admite que o último ano foi um flagelo para a ADS, que perdeu adeptos e associados e neste momento “a nossa batalha é seguirar os sócios e os atletas da formação. Cumprimos com todas as regras sanitárias impostas pela DGS, apoiamos os atletas no rastreio da COVID-19 e vamos tentar terminar a época da melhor maneira possível. Abril marcou o regresso da atividade desportiva, sabemos que não vamos ter tempo até ao final da temporada de ter uma época desportiva normal, mas acredito que teremos os nossos jovens a competir novamente, pelo menos em torneios locais. Na próxima época acreditamos que o calendário desportivo irá proceder dentro da normalidade e mais tarde ou mais cedo vamos ter pessoas assistir novamente aos nossos jogos. Até lá, os associados sabem que podem acompanhar os jogos da Sanjoanense, por stream, nas nossas redes sociais.

Simbiose com a cidade

A ligação do concelho de São João da Madeira com o desporto e com a ADS está bem documentada. Dados municipais (pré-COVID19) indicam mais de 2000 atletas federados na cidade, cerca de 10% da população. Mais de 50% porcento desse número são referentes a atletas da Sanjoanense que se destaca como a principal coletividade do concelho e com alta influência dentro nas famílias de São João da Madeira. Face a esse impacto, a ADS ocupa na cidade cerca de 13 espaços desportivos, para treinos.

“É importante dar uma palavra à Câmara Municipal de São João da Madeira. São um apoio em termos financeiro, logístico e em termos de instalações. Existe uma grande simbiose entre a Sanjoanense, a cidade e o município, onde o bem de um é o bem de todos, por isso sentimos a responsabilidade de deixar o concelho e os seus habitantes orgulhosos do seu clube, que sofrem e torcem por nós. Sabemos que podemos contar com os sanjoanenses, independentemente da modalidade ou da divisão que disputemos e esse tem sido o segredo do nosso crescimento. Nesta fase teremos de ter um pouco de paciência, em breve estaremos todos juntos”, finaliza de primeira, Luís Vargas.

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