Reportagens Exclusivas

Entrevista ao Presidente do Leixões Jorge Moreira

Portugal Sport – O primeiro mandato do presidente aconteceu em grande parte dentro do período pandémico. Numa altura em que o Leixões já atravessava algumas dificuldades, de que forma a nova direção trabalhou para reorganizar e unir o clube?

Jorge Moreira – Efetivamente, este mandato ficará marcado pela pandemia do surto de Covid-19 que assolou o Mundo, o qual acarretou uma série de consequências na atividade do Leixões Sport Club, evidentes na diminuição das receitas decorrentes da quotização de associados e atletas, sponsorização, donativos e apoios. A paragem competitiva da generalidade das modalidades e respetivas equipas de formação e a interdição de público nos recintos desportivos foi particularmente penalizadora para o clube.

A direção à qual orgulhosamente presido, teve o condão de transformar esta fase atípica numa oportunidade do Leixões Sport Club voltar a ocupar o“seu”papel principal, ligando, humanizando e lembrando as nossas origens, as conquistas, histórias, memórias e nobreza de todos os Homens e Mulheres que ao longo do tempo contribuíram para a grandeza do clube e defesa de Matosinhos.

Cientes da nossa missão, demos continuidade à aplicação das premissas preconizadas no programa sufragado: transparência, rigor e proximidade aos associados, simpatizantes e gentes da nossa terra.

Assim, neste ano atípico, em tempos de distanciamento nunca estivemos tão próximos dos nossos sócios e mostramos claramente sinais de FORÇA e UNIÃO:

  • Maior dinamização das Redes Sociais até então «adormecidas» no Clube – Facebook, lnstagram, Youtube e Linkedin, onde foram criados momentos Lúdicos e de entretenimento – Jogos, Desafios, Passatempos, Entrevistas, Rubricas… que se traduziram em mais seguidores, mais engagement e num maior número de visualizações;
  • Em plena época de confinamento encetamos uma atividade denominada «Os Melhores Sentimentos de Páscoa», onde tivemos a felicidade de levar o Leixões Sport Club a casa de alguns dos nossos associados, os quais foram «mimados» com pequenas lembranças;
  • Criamos rubricas/aulas online em diferentes modalidades, com o objetivo de combater o sedentarismo inerente ao confinamento e simultaneamente manter a ligação entre o clube e a comunidade;
  • Lançamento da Rubrica Online «Por Falar Nisso», que visa explicar e elucidar todos os associados sobre temas pertinentes da vida do Leixões Sport Club, tais como: o Estádio do Mar que contemplou 3 episódios;
  • Inicio da Parceria com a xRadio, com a realização do – programa “Sentimento Leixões”, com o objetivo de promover a marca Leixões, preservar as memórias, histórias e feitos das nossas gentes, dar voz às «modalidades», dar a conhecer as histórias contadas na primeira pessoa por ex: atletas/dirigentes e sócios do clube, mantendo os associados informados da realidade e modo de funcionamento do Leixões Sport Club.
  • Encetamos um plano de recuperação de sócios, assente no perdão parcial da dívida em 50% – onde através da implementação de novos métodos de pagamento de quotas (transferência bancária e referência multibanco), registamos um aumento significativo de associados e valor de quotização.
  • Na área da Responsabilidade Social, o Leixões Sport Club encetou várias ações junto da comunidade, através do desenvolvimento de uma série de atividades inseridas na Rubrica «Jogo Limpo», as quais abordaram temas pertinentes como o Racismo, Bullying, ética e Integridade; Fair play, clinic, etc… com o objetivo de promover nos atletas, dirigentes e familiares a inclusão e os valores do desporto, do humanismo e da solidariedade.

Mais que um clube, somos uma instituição com forte responsabilidade social e não nos demitiremos do nosso papel.

PS – A perda de atletas da formação foi um flagelo para vários clubes e associações. Que realidade verificaram no Leixões?

JM – Atendendo ao ecletismo do Leixões, constatamos que as perdas mais significativas se registaram nas modalidades de voleibol e natação. Não obstante a perda de atletas, o Leixões congratula-se por ter sido o clube com maior número de atletas inscritos na AFPorto e AVPorto. Nesta fase, saliento a criação de rubricas/aulas online em diferentes modalidades, com o objetivo de combater o sedentarismo inerente ao confinamento e simultaneamente manter a ligação entre o clube e os atletas. Esta atividade transversal a todas as modalidades do clube foi determinante para a manutenção do vínculo entre atletas/clube.

PS – Qual foi o maior desafio neste primeiro mandato?

JM – Conhecer a verdadeira situação desportiva, patrimonial, jurídica, económica e financeira do Leixões. Sinceramente foram vários desafios, todos importantes, todos jogados fora dos campos e quadras.

Os primeiros meses foram particularmente difíceis e onerosos, face à inexistência de contabilidade organizada, documentos de suporte e falta de liquidez (contas penhoradas).

Encontramos um “Leixões” moribundo e “oco”, com o controlo das modalidades a estar sob a gestão de associações adstritas.

Gradualmente e fruto de muitas horas/dias de trabalho invisível, aferimos: a delapidação do património do clube, com a venda de terrenos e expropriações, cujos valores, não foram utilizados para cobrir as dividas do clube; uma série infindável de coimas, penhoras e dividas a fornecedores, algo que só conseguimos estancar com a aprovação e homologação do PER – Programa Especial de Revitalização, através de Despacho no dia 4 de janeiro de 2020.

Outro enorme desafio, foi elaborar um relatório de gestão transparente e rigoroso, capaz de plasmar a verdadeira realidade do clube. O mesmo foi apresentado e aprovado por unanimidade pelos sócios presentes na AG (algo inédito nos últimos 10 anos) e pode ser consultado no site oficial do clube.

Como dá para perceber, o sucesso desportivo não tem feito parte do meu discurso, porque a maior preocupação foi e é a situação financeira e institucional do clube. Mesmo assim, na parte desportiva conquistamos seis títulos nacionais de voleibol, ganhamos títulos no atletismo e natação e granjeamos 2 subidas de divisão no futsal.

Gradualmente estamos a criar condições para que todas as modalidades sejam autossuficientes e continuem de forma tão digna e exemplar, a transportar o nome do Leixões Sport Club, a todo o Mundo.

Em termos económicos, o Leixões Sport Club estabilizou as suas “contas” e trilhou um caminho sólido e com sentido de futuro.

PS – O regressos dos adeptos vai ser importante para que o clube consiga alcançar novos horizontes a partir desta fase?

JM- Sem dúvida. Os nossos associados são a grande força do clube, a principal razão da nossa existência e o principal património do Leixões Sport Club.

São eles que transportam a identidade, o orgulho, a tradição e o sentimento do nosso Leixões.

Com a presença e apoio dos nossos indefetíveis adeptos estaremos sempre mais próximos da vitória, independentemente do adversário e do lugar.

PS – Essa cultura bairrista que define o Leixões há várias gerações é transmitida para os miúdos da formação?

JM – Sim.O nosso Leixões faz parte da memória coletiva dos Matosinhenses, tem uma identidade muito própria, que nos define e se revela em cada manifestação de vida ao longo da história, uma identidade que se confunde com a Cidade e as suas gentes – gente séria, honrada e trabalhadora, com forte ligação ao mar –o que explica o nosso orgulho peixeiro.

Somos filhos da Terra e é este sentido de pertença que nos une.

Na formação usamos o lema: Tradição, orgulho, sentimento, o qual representa os valores cultivados desde 1907. A tradição de passar este amor de geração em geração, defender o clube da terra; o orgulho nas origens, nas nossas gentes – o nosso orgulho peixeiro; o sentimento pelo Leixões, algo que nos liga e humaniza.Temos a obrigação e preocupação de explicar aos atletas as histórias e memórias do clube e de transmitir os valores que consideramos intocáveis e inegociáveis: respeito, compromisso, união/solidariedade, ambição, atitude, partilha, humanismo …

Para nós muito mais importante que formar um bom atleta, é formar “Homens” e futuros adeptos do Melhor Clube do Mundo.

PS – A formação de jogadores assume cada vez mais preponderância dentro das estratégias e das perspetivas de futuro dos clubes em Portugal. Dentro da realidade do clube, até onde pode ir o Leixões no que respeita à formação de futebol?

JM – No que respeita ao futebol de formação, pretendemos a médio prazo voltar a ser uma grande referência na modalidade. Temos o dever de honrar os pergaminhos e perpetuar o legado dos Bebés do Mar, uma marca que nos define e carateriza. Também não podemos esquecer, que foi um atleta do Leixões, filho de Matosinhos – Tozé Pereira, que capitaneou e ergueu o primeiro grande título de Portugal – Campeonato do Mundo sub 20, realizado em Riade (Arábia), no ano de 1989.

Estamos a palmilhar o nosso caminho, sabendo que o futebol de formação atualmente, transcende e muito as 4 linhas, a competitividade das equipas e o potencial dos nossos jovens. Cientes que existe uma série infindável de áreas primordiais para o sucesso do processo formativo, temos trabalhado afincadamente no processo de certificação de entidades formadoras da FPF, uma ferramenta estrutural na qual, obtivemos pelo segundo ano consecutivo, a classificação honrosa de 89%, que se traduziu na obtenção de certificação nível 4 estrelas (monitorização e avaliação feita pela FPF).

Este processo tem contribuído para uma melhor qualidade na formação, reconhecimento do nível de qualidade do processo de formação, maior conhecimento dos atletas e fundamentalmente melhor organização do clube.

Hoje temos uma visão, missão e um plano estratégico. Um organograma com a definição clara das funções e papeis de cada um. Ao nível do recrutamento, temos um conjunto de ferramentas necessárias para receber e prestar apoio a todas as crianças e jovens. Em termos de formação, qualquer colaborador/treinador que chegue ao Leixões, encontra um dossier com as linhas orientadores referentes aos métodos de treino, jogo e formação a serem aplicadas aos jovens. Um departamento médico capaz. No que toca aos aspetos sociais e pessoais temos tutor responsável pelo acompanhamento escolar dos jovens e pela criação de um calendário de formações dirigidas tanto a atletas como a pais e treinadores. Estamos a apostar na qualificação de todos os recursos humanos envolvidos – treinadores possuírem TPTD e no regresso de ex: figuras do clube – Pedras, Cadinha, Cacheira, João Paulo, Paulo Silva, Professor José Manuel Ferreira.

Ao nível das instalações, a última década foi nefasta para a formação, fruto da perda do nosso “Maracanazinho” e do abandono dos campos do Complexo Óscar Marques. Neste período, a falta de uma “casa”, aliada à descentralização – ocupação de diferentes espaços espalhados no concelho, traduziu-se na perda de identidade. Todos sabem a importância de uma CASA, O SIGNIFICADO DE CASA, pelo que estamos ansiosos pela conclusão das obras de requalificação do Complexo Óscar Marques. A casa de formação do Leixões.

Conhecedores da importância e necessidade de uma casa para o Futebol de Formação, temos tido um papel ativo na requalificação do Complexo Óscar Marques, sensibilizando a CMM e a Matosinhos Sport para a necessidade de serem criados espaços fundamentais para a excelência do complexo e desenvolvimento dos nossos jovens. Paralelemente, fazemos votos para que o Campo de Santana (emblemático espaço localizado no centro da cidade) seja uma realidade, tal como, prometido pela nossa presidente de Câmara – Dr-ª Luísa Salgueiro no discurso da Gala do 112º aniversário do Leixões SC.

Gradualmente, estamos a dar pequenos passos, para grandes conquistas.

PS – O futebol feminino vai entrar nas prioridades do clube?

JM – Sim. O regresso do futebol feminino ao Leixões, variante onde no passado recente fomos campeões sub-18, é um desiderato desta direção, porém ainda não estão reunidas as condições desejáveis para tal.

É necessário garantir espaços de treino/jogo.

PS – Olhando para o voleibol, quais são os objetivos para esta temporada?

JM – Os objetivos são claros: entrar na quadra para ganhar, é a nossa forma de estar no desporto e particularmente no voleibol. Temos obrigação de honrar os pergaminhos inerentes ao estatuto de maior potência voleibolística nacional, corolário de 97 títulos nacionais, alcançados pelas diferentes equipas da formação e seniores.

Nesta época desportiva, temos a legitima ambição de alcançar a marca dos 100 títulos nacionais. Seria uma bela forma de imortalizar e homenagear o Pai do voleibol do Leixões – o Sr. Orlando Ramos, uma referência do clube e da modalidade que recentemente partiu, poucos dias após de ter completado o seu 100º aniversário.

Na variante sénior feminina queremos ganhar todas as provas em que estamos envolvidos. Fizemos um esforço para manter a espinha dorsal da equipa e o staff técnico.

No tocante à equipa masculina, apostamos no mercado português, recrutando atletas com potencial e ambição. Nessa linha de pensamento, fomos buscar o Dinis Leão – melhor pontuador do campeonato nacional nas últimas duas épocas. O objetivo é crescer e encurtar distâncias para as equipas que habitualmente luam pelo top 4.

Na formação o objetivo é formar para ganhar; formar Homens para formar atletas competentes e íntegros na quadra e na vida.

PS – Que mensagem gostaria de deixar para os adeptos e sócios do Leixões que vão ler esta entrevista?

JM – O Leixões é feito pelos adeptos, eles são a alma e a grande força do Velhinho do Mar. O apoio, participação e presença dos adeptos é determinante para a prossecução dos objetivos que visam o engrandecimento e a sustentabilidade, mas é imperioso que todos tenham presente a importância do movimento associativo no futuro do clube.

Não obstante, a aposta no ecletismo e no reforço da competitividade, o sucesso das modalidades está fortemente dependente do contributo dos associados e simpatizantes e na conversão destes últimos em sócios.

O crescimento do número de associados e a regularização da quotização são fundamentais para a sustentabilidade do clube e obtenção dos resultados/títulos almejados por todos.

É um tremendo orgulho saber que o Leixões Sport Club é uma das marcas desportivas mais significativas em Portugal e a maior potência desportiva de Matosinhos. Um Clube mágico, inquantificavelmente grande, muito pela força dos nossos adeptos, pelo que, é importante “todos” perceberem que fazemos parte de um todo que nos liga – a grande “família do Mar”, e que remando lado a lado chegaremos a bom porto.

Por fim, faço votos para que “todos” continuem a perpetuar este sentimento único, vivido e transmitido e geração em geração.

PS – Pensando no adepto Jorge Moreira, relate uma memória que guarde com carinho, que viveu enquanto apoiante incondicional do Leixões.

JM – Na qualidade de presidente/adepto, recordo com nostalgia o episódio vivenciado no areal da Nazaré, na Fase Final de Manutenção do Campeonato de Elite de Futebol de Praia, em 2019, que ficou celebrizado como o “Barquinho da Nazaré”. Após a disputa da Fase regular do campeonato, em que registamos derrotas em todos os jogos disputados, partimos para a Fase Final (manutenção) com apenas 7 jogadores de campo, sendo unanimemente considerados como favoritos à descida de divisão. Nem os nossos adeptos acreditavam. Na semana anterior à competição foi equacionado a desistência da prova, por falta de jogadores (fomos impossibilitados pela FPF de inscrever novos jogadores) e condicionalismos inerentes à competição: realização de 3 jogos em 3 dias, disputados em horas impróprias (12.30h/14.30h), debaixo de temperaturas elevadas.

A verdade é que os Bravos d´Areia – nome como é conhecida a nossa equipa de futebol de praia, numa clara demonstração de superação, união, resiliência e vontade, viajaram até à Nazaré.

Já no balneário, minutos antes do início do 1º jogo, o grupo (no qual me inseri) deu as mãos e numa profunda demonstração de fé, ouviu silenciosamente a música evangélica “Barquinho da Nazaré”. A verdade é que não obstante não ser crente, senti que a mensagem entrou em todos nós e inexplicavelmente criou uma corrente de energia e ligação entre todos, ao ponto de entramos no areal e repito com apenas 7 jogadores de campo e vencer os 2 primeiros jogos, e consequentemente alcançar a manutenção na principal divisão do Futebol de Praia nacional.

Esta história tem sido dada como exemplo às diferentes equipas/modalidades do clube com relativo sucesso.

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