“No Algarve há um reconhecimento que o Imortal é organizado e competitivo”
Entrevistado: Jorge Guerreiro, presidente do Imortal Basket
Portugal Sport: A época passada foi de grande sucesso para o Imortal Basket Club. Nos seniores masculinos o clube fez uma época relativamente tranquila e no feminino conseguiram a subida à Liga principal, com o título de campeão e sem derrotas. No inicio da época, acreditavam que a época seria tão tranquila e rica em conquistas?
Jorge Guerreiro: Nos femininos foi uma época histórica. Passamos à Liga Betclic com um desempenho tremendo. Vamos entrar num nível competitivo mais elevado, com equipas com outros orçamentos, se ficarmos nos cinco ou seis primeiros lugares, será excelente. Nos masculinos vivemos uma temporada 2020/2021 francamente positiva. Conseguimos um quatro lugar, tudo nos correu bem, foi um ano incrível, a nossa melhor época de sempre. Este ano tivemos uma temporada dentro do normal, nos primeiros oito, algo que estamos habituados.
PS: O Imortal tem neste momento o basquetebol sénior, masculino e feminino, nas Ligas principais da modalidade. As equipas de formação estão praticamente todas nos nacionais. Como foi possível manter a organização no clube, enquanto o mundo estava de pernas para o ar, derivado da pandemia que assolou todo o mundo?
JG: Foi um trabalho conjunto entre a direção e o corpo técnico, com uma proximidade muito grande, com o diretor geral, o Carlos Amorim, a coordenar tudo muito bem dentro da nossa organização. Mas foram épocas duras em termos de orçamento. Acartou uma série de custos, numa fase de não competição, sem possibilidade de gerar riqueza. E quando a competição regressou, veio o problema da distância geográfica. Com as equipas nos nacionais foi dispendioso fazer tantas viagens. Enquanto uma equipa de Lisboa joga praticamente ali na zona, nós temos de ir sempre para cima, sempre em longas deslocações, com um Alentejo para atravessar. O nosso sucesso nessa fase não seria possível sem um grande rigor de gestão e sem o apoio da autarquia.
A nossa gestão é apertada, as secções são todas auto-sustentadas em termos de receitas e custos. É a nossa luta diária, sempre com o apoio da autarquia e patrocinadores que ajudam o clube.
PS: Na formação, como funciona o processo de captação do clube?
JG: Trabalhamos muito a zona de Albufeira e as escolas, evidentemente. Começamos a sentir que atletas de outras cidades procuram o Imortal para jogar basquetebol. Hoje somos uma referência na modalidade, o clube tornou-se atrativo e as pessoas gostam da nossa maneira de trabalhar. Na formação temos inclusivamente muitos miúdos nas seleções. E isso acontece tanto nos femininos como nos masculinos.
No Algarve há um reconhecimento que o Imortal é organizado e competitivo.
PS: Sentem que outros clubes do Algarve estão a seguir o exemplo do Imortal e a começar a apostar seriamente na modalidade? Clubes históricos como o Portimonense e o Farense começam a fomentar o basquetebol nas suas cidades e dentro da sua organização. Isso acontece porque o Imortal deu o primeiro passo e foi bem sucedido?
JG: Talvez sejamos uma referência e as pessoas tenham percebido que é possível criar equipas de basquetebol fortes e sustentáveis no Algarve. Acho que somos um bom exemplo para os outros dirigentes. E o Algarve tem um potencial tremendo no que respeita ao basquetebol.
Já vários clubes vieram falar connosco por causa do seguinte: Houve uma separação entre a modalidade de basquetebol e o Imortal DC. Que deu origem a uma nova entidade, denominada Imortal Basket Club. E essa separação permitiu que tivéssemos uma capacidade de organização que antes não existia. Sabemos que o dinheiro chega e é direcionado para a modalidade do futebol. Com esta separação isso deixa de acontecer. Sei que hoje há clubes que pensam seguir o caminho que nós traçamos, no que diz respeito a esta autonomia.
PS: O basquetebol perdeu protagonismo em Portugal, em comparação com outras modalidades de pavilhão, nomeadamente o futsal, voleibol, andebol e o hóquei em patins. Com a chegada do Neemias Queta à NBA, podemos estar assistir a um renascimento do basquetebol em Portugal? Como vê a modalidade em cinco anos?
JG: Daqui a cinco anos, a realidade do basquetebol em Portugal continuará com restrições orçamentais, onde não poderá competir com muitos outros países. Se formos a ver o orçamento das melhores equipas portuguesas com uma equipa da liga espanhola, a discrepância é gigante. Se no futebol é impensável considerar ter uma equipa portuguesa na final da Liga dos Campeões, então no basquetebol é muito mas muito mais complicado. No entanto, com um atleta português que consegue chegar à NBA, acho que pode ser uma referência para muitos miúdos que gostem de basquetebol e que sintam que podem ter uma oportunidade de um dia serem profissionais. A NBA é o sonho de qualquer jogador de basquetebol.
Posso confidenciar que tivemos uma oportunidade de participar numa competição europeia e não o fizemos. E o motivo foi simples: falta de orçamento. Como se costuma dizer, sem dinheiro não há palhaço e infelizmente em Portugal os clubes não podem ter praticamente nenhuma aspiração internacional.
PS: Importa salientar que apesar de tudo o que o Imortal tem conquistado ao longo dos últimos anos, quer o clube, quer a própria modalidade em Portugal, ainda não tem uma estrutura totalmente profissionalizada…
JG: É verdade. Praticamente todos estamos no clube por carolice. Por amor à camisola. E temos um diretor geral que vive o Imortal e o basquetebol 24 horas por dia. No fundo estamos aqui porque gostamos desta atividade, gostamos de ver os miúdos a praticar desporto. Temos também uma enorme preocupação social e sabemos que aqui os miúdos estão saudáveis, estão protegidos e não dão problemas aos pais.