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“A academia é o orgulho desta direção”

Entrevistado: Jorge Silva, Presidente do FC Famalicão

Portugal Sport- A academia é um projeto recente na história do clube. Qual é a importância da formação do FC Famalicão para o futuro do clube enquanto instituição e enquanto entidade formadora de novos jogadores?

Jorge Silva – Começaria por um ponto. Formação de cidadãos responsáveis. O futebol tem uma componente educacional fortíssima. Na criação de valores, na criação de pessoas melhor preparadas para a vida. O futebol desde logo tem a componente do desporto: mente sã e corpo são. Depois existe uma componente de regras fortíssima: espírito de grupo, capacidade de superação, sacrifício, ambição…

Todos estes valores são incutidos desde cedo no clube, independentemente se tem ou não potencial para serem profissionais de futebol. Quem passa por esta academia garantidamente será um melhor cidadão no futuro.

A academia do FC Famalicão acontece quando chegamos à direção do clube e percebemos a enorme deficiência que havia. O FC Famalicão tem um estádio e tem um campo de treinos que é utilizado pela equipa profissional. Andávamos de campo em campo a pedir aos clubes vizinhos a cedência de espaço. Chegamos a ter um campo dividido em quatro e cinco partes. Era impossível ter uma formação com qualidade naquelas condições.

A nossa preocupação foi avançar com a construção de uma academia em condições. Pensamos, agimos, o município cedeu o terreno isso foi uma enorme ajuda para o clube. Este espaço foi transformado, era praticamente uma lixeira e construímos três campos, numa primeira fase do projeto. Reabilitamos os edifícios que aqui estavam e criamos um espaço para estarem 10 jovens a viver. Temos o bar, uma sala que funciona como secretaria e dá para receber os pais. Partimos depois para a segunda fase da academia, com a construção de mais dois campos de futebol de 11 e um pequeno estádio, para que tenhamos a possibilidade de ter aqui mais do que um jogo oficial a decorrer.

Esta é a nossa realidade. Temos 3500 metros de equipamentos, balneários, medicina, lavandaria, ginásio, administração, tudo equipamentos que complementam esta atividade. Esta academia é um orgulho para nós e para este clube que festeja 90 anos da sua existência.

PS – Apesar da importância pedagógica na formação de jogadores, é de acreditar que o clube também forma atletas, na expetativa deles fazerem a ponte para a equipa principal do FC Famalicão?

JS – O FC Famalicão tem duas componentes. Uma é a qualidade competitiva, onde é feita uma observação pelos nossos técnicos. E esses trabalham de forma mais intensa para chegarem mais à frente. E depois temos uma vertente social que não é descurada de todo. Miúdos que no momento não apresentam potencial para serem craques da bola, mas são lhes permitido sentir o clube, amar o clube e vestir as nossas cores. Independentemente daquilo que será o futuro hipotético do jogador.

Queremos muito que os miúdos sejam jogadores de futebol, temos centenas de miúdos com esse objetivo e nós não temos o direito de cortar os sonhos a ninguém. Temos de alimentar os sonhos deles de forma realista, com uma componente competitiva e social, que caminham de braço dado.

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PS – Em termos de captação de jogadores, centram-se na zona norte, ou já recebem crianças de todo o país?

JS – Já recebemos miúdos de todo o pais. Nesta academia temos crianças que vem de todo o lado, de norte a sul. Embora a maioria seja do concelho de Vila Nova de Famalicão. Digo com satisfação que a nossa academia é procurada por muita gente e torna-se difícil dar resposta.

O futebol é para mulheres”

PS – O Futebol feminino é um fenómeno que está acrescer em Portugal e onde o FC Famalicão não quer ficar atrás. Quais foram os grandes objetivos quando criaram a equipa de futebol feminino?

JS – O primeiro grande objetivo foi proporcionar à mulher que gosta de futebol, que possa praticar a modalidade dentro do FC Famalicão. Apregoa-se muito a igualdade de género, mas na realidade ainda não acontece, infelizmente. No entanto, se alguém duvida da capacidade e da competência da mulher para jogar futebol, então anda completamente distraído. Em todas as áreas a mulher tem um papel importantíssimo e no futebol tem de ser igual. E o clube quis fazer isso, de forma clara.

A mulher tem de ter a mesma igualdade em termos de direitos e oportunidades que o homem e o futebol feminino veio trazer essa oportunidade. E a academia mais uma vez assume um papel determinante. Sem esta academia a criação do feminino não seria possível. O FC Famalicão é uma instituição claramente dedicada para o futebol, temos no concelho outros clubes muito competentes nas modalidades, sendo o nosso departamento o futebol. E com a criação da secção de futebol feminino, conseguimos fazer o clube crescer ainda mais. É um privilégio para esta direção e para mim em particular, descobrir como o futebol feminino é espetacular. E só quem observa de perto, quem está presente, consegue perceber como o futebol feminino é maravilhoso em termos técnicos e competitivos.

A mulher tem uma capacidade incrível de lutar pelos seus sonhos e pelos seus objetivos. Garanto que em termos de tempo útil de jogo, há muito mais tempo aproveitado no futebol feminino do que no masculino. As mulheres são muito mais guerreiras e querem muito jogar futebol. Crescemos com a mentira de que o futebol feminino não é para mulheres, mas o futebol é para mulheres, é para meninas e há um enorme talento para jogar futebol.

PS – Existe no clube formação no futebol feminino?

JS – Sim e há um trabalho importante para ser feito nesse capítulo. Temos jogadoras desde dos sub-15, com equipa B e equipa A, e vamos continuar a proporcionar esta formação, sobretudo numa altura onde existem poucas escolas em Portugal de futebol feminino. É com orgulho que dizemos que o FC Famalicão participa em todas as competições de futebol feminino.

PS – Existe ainda alguma resistência perante os sócios do FC Famalicão em acompanhar o futebol feminino?

JS – Há alguma resistência. Mas os que vem começam a ficar. Alguns sócios começaram a ir por curiosidade assistir aos jogos de futebol feminino, ficaram agarrados e começaram a seguir a equipa feminina. Já temos muitos sócios a marcar presença de forma sucessiva nos jogos do FC Famalicão no futebol feminino. É já cobram. Cobram no treinadores na direção…é o futebol.

Criação da secção de futsal

PS- O Futsal é uma modalidade nova no FC Famalicão. O Futsal está enquadrado no futebol, mas é ainda assim uma nova realidade no clube. Como é que surgiu esta possibilidade de implementar o futsal no FC Famalicão?

JS – Ela acontece por vários motivos. O futsal está a crescer, somos campeões europeus, campeões do mundo, há uma ligação grande entre o português e o futsal. E o concelho de Famalicão precisava de uma marca forte para representar a modalidade. Fruto dessa observação fizemos uma parceria com o Sporting Clube Cabeçudense, por várias ordens da razão. Eles viram que o FC Famalicão poderia dar uma maior projeção e dimensão à modalidade e nós aproveitamos o know how do Cabeçudense, que já militava na terceira divisão nacional, e com uma parceria lançamos o FC Famalicão em futsal. Aproveitamos os espaços do Cabeçudense e por essa via resolvemos um problema de infraestruturas e a pareceria aconteceu, naturalmente com as cores e símbolos do nosso clube.

Temos a gestão total da modalidade, mas sempre com respeito pela instituição Sporting Clube Cabeçudense, com a qual interagimos em permanência. Em termos de plantel, alguns transitaram para o FC Famalicão, outros foram dispensados e contratamos novos jogadores. A formação de futsal, é toda do FC Famalicão, sem a parceria como acontece nos seniores. Tivemos duas escolas privadas de futsal, que abdicaram no projeto em prol da formação do FC Famalicão. A Sportfut e o Recreio Desportivo foram duas escolas de futsal que permitiram que o FC Famalicão hoje tenha esta formação de futsal. E nós estamos gratos pelo facto de ambas as instituições terem aceite fundir as escolas, em prol deste projeto novo no nosso clube.

PS- Os famalicenses esperam ver o clube um dia na primeira divisão nacional?

JS – As pessoas de Famalicão são naturalmente ambiciosas. E já deu para observar isso. Querem sempre mais. No futsal é igual. É impensável que esse não seja o objetivo. Pode demorar um ano, pode demorar dois anos, ou três anos. Mas trabalhamos para um dia chegar a esse patamar.

Memórias de uma vida

PS – O FC Famalicão completou 90 anos de existência. O presidente é um adepto de berço deste clube. Que memórias guarda com maior carinho inerentes ao FC Famalicão, quer como adepto, quer como dirigente?

JS – Enquanto adepto tenho de recuar até 77/78 quando subimos à primeira divisão. Recordo a maioria do plantel. Uma equipa incrível, com grandes memórias. Na altura estava no ciclo, com 10 anos, e tínhamos um autocarro na minha freguesia que nos levava a ver os jogos fora do FC Famalicão. Havia muitos jogos ao sábado à tarde e então o autocarro passava, apanhava-nos na escola, tínhamos aulas de manhã ao sábado, e depois seguíamos para onde o FC Famalicão fosse jogar. Esses sábados são memórias fantásticas e esse ano marcou-me profundamente.

Como dirigente foi a subida do CNS à segunda liga. Tivemos um jogo épico com o Varzim que perdíamos 2-0 ao intervalo e tínhamos de empatar para passar a fase de subida. Marcamos o 2-2 ao minutos 97 e foi indiscriminável.

PS – Que metas traçaram para o clube em 2022?

JS – As metas são cada dia fazer melhor. Não determinamos o nível da fasquia. Se conseguirmos chegar mais um bocadinho a cima e se possível superar a expectativa, estamos felizes. Queremos estar no topo, no topo na formação, proporcionar aos miúdos melhores condições para eles serem felizes. Queremos continuar a crescer ao nível da medicina e da psicologia. A saúde mental também é muito importante e o clube pode ser um escape para que os miúdos consigam ter a cabeça saudável.

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