“No FC Famalicão a exigência é bem maior”
Entrevistado: Hugo Ribeiro, capitão do futsal do FC Famalicão
Portugal Sport – Conte-nos um pouco daquilo que tem sido a sua ligação ao futsal até aos dias de hoje?
Hugo Ribeiro – Joguei até aos 22 anos no campeonato concelhio aqui de Famalicão, até surgir a oportunidade de vir para o Cabeçudense, na altura na segunda divisão e foram nove anos de clube, até haver recentemente a junção com o FC Famalicão. Hoje tenho 31 anos, dez anos de casa, dividindo a minha vida de atleta com as minhas obrigações profissionais. E é algo que as pessoas ainda precisam de perceber em relação ao futsal. Há quatro, cinco anos tínhamos duas equipas profissionais de futsal e mesmo com as conquistas do europeu e do mundial, ainda estamos longe do nível de profissionalismo que existe no futebol de 11.
PS – Mas comparativamente com a realidade de há 10 anos, o futsal está num nível totalmente diferente.
HR – Hoje há muito mais gente a acompanhar o futsal, há muito mais apoio, mais formação, os jogos já são preparados de forma diferente. Há 10 anos atrás, por muito que fosse já futsal, parecia uma coisa muito bairrista.. hoje olhamos para a terceira divisão e vemos equipas grandes, orçamentos grandes, jogadores da terceira que saltam rapidamente para a primeira Liga. E com a seleção a ter estes resultados, há um chamariz maior no futsal do que havia, claramente.
PS – Notou diferenças significativas na transição para o FC Famalicão?
HR – O primeiro ponto e o mais importante: no Cabeçudense nunca nos faltou nada. Sempre foram cumpridores, davam boas condições, mas o Cabeçudense representa uma aldeia e o FC Famalicão um concelho inteiro. Passamos de 100 para 1000. Tínhamos uma pessoa que vinha fotografar os nossos jogos, agora temos um departamento de comunicação.
Também tenho noção que o objetivo do FC Famalicão também não é igual ao Cabeçudense. A exigência é bem maior. Pela dimensão da instituição, pela marca que são hoje, pelas condições que nos dão, tenho consciência que este projeto tem como objetivo chegar à primeira Liga em cinco, seis anos. Nós só temos de nos focar em jogar à bola, não nos falta nada.
PS – Como foi recebida a notícia no balneário, a propósito da junção do Cabeçudense com o FC Famalicão?
HR – Todos receberam a notícia com entusiasmo e grande parte do plantel transitou para o FC Famalicão. Ainda para mais fomos campeões distritais e dessa equipa cerca de 85% contínua. Temos o Cláudio e o Emerson que vem da primeira Liga, o Hélder que veio do ADCR Caxinas, o Juanito do Maia. O núcleo duro está quase todo.
PS – Antes da junção, já conheciam possibilidade de que o FC Famalicão iria se unir ao Cabeçudense?
HR – Já se ouviam rumores, nós capitães sabíamos que ia acontecer, mas não transmitimos isso aos nossos colegas. Até ser oficial não se falou de nada, embora o ano passado o FC Famalicão ia observando o que fazia o Cabeçudense. No final da época já sabíamos que iríamos representar o FC Famalicão.
PS – O facto de representarem as cores do FC Famalicão, leva a uma maior cobrança por parte da massa adepta?
HR – O início de época não foi fácil, não começámos da melhor forma e nós sabemos que a relação com os adeptos depende das vitórias. Se ganhássemos logo de início seria mais fácil, mas não tivemos um bom arranque. Mas felizmente sempre tivemos o apoio da direção que nos protegeu e deram a cara sempre que necessário.
PS – Hoje as pessoas começam a aceitar com maior facilidade que vocês são o FC Famalicão?
HR – Cada vez mais as pessoas vão aceitando com maior facilidade e o apoio da claque é muito importante. Fomos jogar para a Taça de Portugal a Óbidos, a uma terra pequena, mas quando entramos dentro do pavilhão, tivemos de parar o nosso aquecimento. O pavilhão estava completamente cheio com um ambiente absolutamente frenético. E precisamos disso no nosso futsal e um pavilhão das Lameiras cheio é incrível. Não é algo que vai acontecer esta época, em seis meses ou num ano. Com o decorrer dos anos vamos conquistar os adeptos do clube.
PS – Esta temporada o objetivo é a manutenção?
HR – O nosso primeiro objetivo era ir à fase de subida. Infelizmente perdemos 2-1 em casa no último jogo e falhamos esse mesmo objetivo. Estamos na fase de manutenção, e temos tido muitas conversas sobre o que se passa esta temporada. Nós não éramos a equipa mais forte da terceira divisão, mas em termos de plantel éramos de longe os melhores da nossa série. Somos de longe os mais fortes da fase de manutenção e vivemos uma situação muito caricata: neste momento a grande maioria dos nossos adversários queria estar no nosso lugar. Só pelo facto de sermos o FC Famalicão. E isso é uma grande motivação para as equipas que jogam contra nós, que festejam cortes de bola como quem marca golos.
Com o investimento que o FC Famalicão fez e com as condições que nos dão, assumimos desde logo que falhamos ao não conseguir chegar à fase de decisão de campeão. Mas temos um bem, na nossa equipa ninguém abandona o barco a meio nem deixa nada pela metade. Em janeiro tivemos quatro ou cinco jogadores com propostas de segunda divisão e ninguém saiu, estamos todos comprometidos em conseguir a manutenção. Aqui ninguém anda a passear com o símbolo do FC Famalicão e temos consciência que se o ano passado subimos de divisão e este ano temos a infelicidade de descer, vai ser uma semana que não saímos de casa. Seria muito mau. Descer no FC Famalicão não seria como descer no Cabeçudense. Não há equipas da terceira divisão a ter as condições que nós temos.
PS – Conseguindo a manutenção, para o ano é obrigatório chegar mais longe?
HR – Se este ano era quase obrigatório, para o ano é absolutamente imperativo ir à fase de subida. O projeto é chegar ao topo em cinco, seis anos e não podemos estagnar. O futsal tem muita qualidade em Portugal, não é uma missão fácil e sabemos que a segunda divisão ainda é mais exigente que a terceira.