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“Somos uma história bonita dentro de um Portimonense centenário”

Entrevista a Pedro Moreira, treinador de futsal do Portimonense

Portugal Sport – Foi o Pedro que introduziu o futsal no Portimonense. Qual era o seu objetivo quando introduziu a modalidade no clube? Imaginava tamanho sucesso desportivo?

Pedro Moreira – O futsal sempre fez parte da minha vida. Joguei futebol de 11 no Portimonense, mas quando era criança, todos jogávamos futebol na rua, até que começou a haver aqueles torneios de verão, aquelas maratonas de futsal, que se organizavam antigamente. Mais tarde fui para os Açores e abandonei o desporto por causa da marinha.

Quando voltei, comecei a aproximar-me novamente do desporto, montei umas equipas de futsal para participar nuns campeonatos, começamos a ganhar uns títulos e competições no Algarve e em Lisboa, até que chegou um momento em que comecei a pensar que teria capacidade de montar uma equipa, para disputar uma competição federada.

Montei nos Montes de Alvor uma equipa nova e em menos de dois anos fomos campeões do Algarve, subimos à segunda divisão, mas devido à falta de apoios, não tínhamos capacidade financeira para esse tipo de competição. Foi ter com o Portimonense em 2014, apresentei o objetivo de criar uma secção de futsal no clube, trazendo comigo alguns jogadores que vinham da equipa de Montes de Alvor.

O clube aceitou as minhas ideias, sendo que o presidente foi aberto desde inicio e disse que a modalidade tinha de ser auto-suficiente, porque o clube não tinha dinheiro. No inicio usávamos o símbolo do clube e pouco mais. Foi mais um desafio, acreditei no meu sonho e sabia que os adeptos do clube iam estar comigo. O Portimonense é o melhor clube do Algarve e com a força dos adeptos, o resto viria por arrasto.

No primeiro ano do futsal, as pessoas adoraram, tínhamos o pavilhão sempre cheio, ainda a jogar em Montes de Alvor. Basicamente passamos a ser uma referência desportiva de Portimão, Alvor e Montes de Alvor, ao mesmo tempo. Uma equipa de uma cidade, de uma vila e de uma aldeia, que cativava muita gente e que nos trouxe muitos apoios. A equipa era feita por pessoas da terra e facilmente vencemos a distrital sem derrotas, subimos à segunda nacional e quase subimos à primeira. Fomos campeões da fase regular e a subida fugiu-nos por um segundo.

A partir daí, acreditamos que era possível, e em 2019 conseguimos. Importa salientar que conseguimos chegar à liga Placard também com muita ajuda dos patrocinadores, que tornaram este projeto possível. As maiores empresas da cidade ajudam o futsal. Hoje o futsal tem o apoio do clube, temos uma visibilidade incrível na cidade e somos a grande bandeira do Portimonense. Nunca criamos problemas nestes anos, arranjamos sempre soluções e superamos todas as adversidades.

Mesmo na época de estreia na primeira divisão todos pensávamos que descíamos. Começamos com seis jogos e seis derrotas, mas como nunca desistimos, conseguimos dar a volta e conseguimos a manutenção. A partir daí tivemos um percurso tranquilo e seguro na liga Placard. Temos uma estrutura cada vez mais profissional e é uma história bonita neste clube centenário.

PS – Sente que o hoje o futsal é o grande elo de ligação entre adeptos e clube?

PM – Há ligação neste momento entre a cidade e o futsal, que eu já não vejo com o futebol. Desde que o futebol passou a ser da SAD, o futsal tornou-se no elo de ligação entre Portimonense e o concelho de Portimão.

O que eu via em pequenino no futebol, vejo hoje aqui. Porque os adeptos do Portimonense em futsal, são os adeptos à antiga do Portimonense. Representamos o bairrismo da cidade.

PS – Em 2014 era impossível pensar que o futsal em termos gerais ia apresentar este nível competitivo sete anos depois?

PM – Era impensável. A primeira liga obriga a muitas exigências, dentro e fora do campo. A liga é amadora, mas os jogadores são como se fossem profissionais. Estamos longe do futsal espanhol, onde a segunda e a primeira divisão são profissionais. Aqui, como a liga é amadora, mesmo com o nível competitivo a ser profissional, ainda temos de ter essa qualificação de amadores. Mas estamos a melhorar, somos campeões da Europa, do Mundo e os melhores jogadores do planeta estão na nossa liga.

O ritmo de treino também é totalmente diferente. Há três ou quatro anos, havia duas equipas na primeira divisão que faziam treinos bi-diários. Hoje em 14 equipas, pelo menos 12 treinam de forma bi-diária. Somos profissionais dentro do amadorismo e o profissionalismo é o caminho a seguir. Sermos campeões de mundo vem acelerar esse processo e dar outra dimensão ao futsal. Antigamente éramos vistos como o parente pobre do futebol e quem não dava cartas lá, vinha tentar a sorte no futsal. Hoje não é assim, hoje o futsal é a primeira opção na cabeça dos atletas. Há quem queira fazer vida do futsal e há jogadores em Portugal a viver da modalidade.

Temos no Portimonense jogadores que tem completa disponibilidade para treinar futsal. Podemos estar horas a treinar uma jogada, porque a semana vai ter oito treinos e não quatro, como em outras equipas. Felizmente temos no clube a vantagem de ter muito tempo de treino e jogadores com total disponibilidade para o futsal. Porque treinar depois de trabalhar oito ou nove horas é muito desgastante para qualquer atleta e isso vê-se em campo e no sucesso desportivo.

PS – Acredita que o Portimonense pode crescer ainda mais?

PM – Podemos e queremos fazer mais e melhor. Sou muito ambicioso e não estou aqui para ficar apenas na primeira liga. Hoje o Portimonense tem muita gente a ajudar, temos mais facilidades, temos tudo o que precisamos para ter uma época tranquila. Mas estar aqui para fazer apenas uma época tranquila não é o suficiente. Por isso, o que passo aos meus jogadores, é fazer mais e melhor, estar em todas as decisões, Taça da Liga, Playoffs, etc. Porque é assim que nos valorizamos e valorizamos o clube.

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