És de Faro, és Farense
Falar do Farense é falar de Faro, do orgulho do Algarve, é falar dos sensacionais anos 90, de Paco Fortes, mítico treinador e Hassan Nader, o rei dos goleadores. No entanto a história dos leões de Faro vai muito mais além, é uma história de persistência e de resiliência, num drama com final feliz, quase ao nível “hollywoodesco”.
O Sporting Clube Farense surgiu, como em muitos casos, com uma ligação emocional ao Sporting Clube de Portugal. O símbolo não engana, o nome também não. Primeiramente Sporting de Faro e posteriormente Sporting Clube Farense, 1910 é o ano em que os alvinegros deram o pontapé de saída. Reza a lenda que os equipamentos eram “Stromps” pretos e brancos, porque o objetivo era captar o desenho e as cores do Sporting CP, no entanto o contacto visual que tinham com os equipamentos do clube de Lisboa eram através de fotografias, na época a preto e branco.
Fazendo do estádio São Luís um santuário e com 24 presenças na primeira divisão nacional, o Farense é historicamente o clube mais importante do Algarve e também o clube com a maior massa adepta da região. De norte a sul do país, conta-se por uma mão o número de clubes com adeptos tão fiéis como os farenses, sendo que na linha da frente estão os South Side Boys, claque dos leões de Faro, que desde 1994 acompanharam o clube, quer nos maiores sucessos, quer na maior das desgraças. Anteriormente o Farense foi apoiado por outros grupos de adeptos, nomeadamente a Alma Algarvia, Pujança Moura e Demónios Brancos.
Um Farense europeu
O ano de 1990 será para sempre guardado como um dos melhores anos da história dos alvinegros. O Farense em 1989/1990 disputou a segunda divisão nacional, onde se sagraria campeão, além de que nessa temporada alcançaria pela primeira e única vez, uma presença na final da Taça de Portugal. Apesar de estar numa divisão secundária, os leões de Faro só parariam na final, tendo sido derrotados pelo Estrela da Amadora, na finalíssima, por 2-0. Na primeira final o jogo terminou empatado 1-1.
Após 1990 iniciava-se o período dourado do Farense, com excelentes resultados na Primeira Liga, conquistando os 7º, 6º e 9º lugares nas épocas seguintes, até que em 1994/1995 consegue alcançar o 5º lugar na prova e aceder a um lugar europeu. Apesar de ser derrotado pelo Lyon na primeira eliminatória, o Farense tinha-se tornado na primeira equipa do Algarve a conseguir 16 presenças na primeira divisão nacional, a ir a uma final da Taça de Portugal e a disputar uma eliminatória da Taça UEFA. Também em 1994/1995 pela primeira vez um jogador do Farense seria distinguido como melhor marcado do campeonato. Esse homem foi Nader Hassan, goleador marroquino que escreveu uma página dourada na história do clube.
De todos os nomes, o mais consensual no que respeita a protagonizar o sucesso do Farense, é Paco Fortes. Antigo jogador do Barcelona, o catalão chegou ao Algarve em final de carreira, ainda a tempo de ser considerado um dos melhores jogadores da história dos leões de Faro. Após terminar a carreira de futebolista, a história de Paco Fortes no Farense continuou, desta vez como treinador. E foi como treinador que viveu os momentos mais importantes no clube. Em 1989 não conseguiu salvar os alvinegros da descida, compensando no ano seguinte com a conquista da Segunda Liga e a presença na final da Taça de Portugal. Todas as conquistas do Farense nessa preciosa década de 1990, tiveram Paco Fortes como homem do leme.
Acusado de ser louco e genial, Paco Fortes ficou conhecido por ser um motivador e por inspirar jogadores e adeptos a abraçar um espírito mais combativo, dentro da realidade do futebol. Afastado do Farense desde 1999, ainda hoje é uma inspiração no seio do clube, porque apesar dos anos complicados que se seguiram, o Farense do catalão, tornou-se no espelho daquilo que todos os farenses querem ver novamente na instituição.
Uma história de superação
Dizer que o Farense iniciou o século XXI de forma trágica, é apenas o constatar de um facto. Em 2002 os leões de Faro desceram de divisão e regressaram à Segunda Liga, apenas para voltarem a descer outra vez. E outra vez. Em 2006, já na terceira divisão e com uma crise financeira que assassinava o clube a nível interno, o Farense ficou impossibilitado de inscrever uma equipa e foi desclassificado.
No ano seguinte, o Farense reativa o plantel sénior, tendo de disputar a segunda divisão distrital, longe do nível profissional de outros tempos. Da final da Taça de Portugal para a distrital do Algarve, ficaram apenas os adeptos. Independentemente da divisão onde estava o Farense, os adeptos marcaram sempre presença e não deixaram o clube morrer. Apesar da crise, o regressado Farense conseguia vencer facilmente a segunda divisão distrital e iniciar uma longa jornada de ascensão.
Em 2008 o Farense vence a primeira divisão distrital e regressa aos nacionais, com uma média de assistência de 2000 adeptos, no estádio do Algarve. Até 2013, o Farense viveu um percurso de subidas e descidas nas ligas semi-profissionais, até que na temporada 2013/2014 o clube volta a disputar a Liga de Honra, onde consegue um 10º lugar na classificação final. A melhor classificação do clube em mais de uma década.
O sucesso da Segunda Liga não durou muito e em 2016 o Farense regressou ao Campeonato de Portugal. A descida de divisão levou a fortes constrangimentos económicos e o futuro do clube voltou a estar em risco. Com muita dificuldade o Farense conseguiu inscrever uma equipa no Campeonato de Portugal, muito por força do esforço de uma nova direção, liderada por João Rodrigues, que reuniu condições para erguer um novo plano desportivo do clube e mantê-lo em atividade na temporada 2016/2017.
Em 2018 o Farense voltou à Liga 2, com uma estabilidade interna que há muito não vivia. Com alguma dificuldade, os algarvios conseguiram garantir manutenção em 2018/2019, o que tornou possível colocar em marcha um plano de investimento do clube, com um reforço na equipa, no staff e na estrutura da instituição e da SAD, de forma a alavancar o Farense para novos voos. 19 anos depois, o Farense acabaria por conseguir finalmente o regresso ao maior palco do futebol nacional, quando a Liga 2 foi interrompida e cancelada. Com o Farense em segundo lugar ao fim de 24 jornadas, foi decidido que o clube algarvio seria promovido à Primeira Liga nacional.
Após 19 anos onde a força do clube subsistiu não nos resultados desportivos, mas na força dos adeptos, quis o destino que a única participação do Farense na Liga Portugal em duas décadas, fosse com os estádios interditos. Um twist verdadeiramente cinematográfico, culminado com a ironia da descida do Farense, a poucos meses da abertura dos recintos desportivos.
Neste momento o Farense está competir novamente na Liga 2 e o sonho é voltar à Liga Portugal, desta vez com maior reforço que o clube alguma vez poderia contratar: o estádio São Luís carregado de farenses.