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Ovarense Basquetebol – Entrevista a Henrique Sobreira

Portugal Sport – Este anos a Ovarense Basquetebol, completa 25 anos como organismo autónomo. Ao dia de hoje, que linhas unem e que linhas separam, a Ovarense Basquetebol, da Ovarense centenária?

Henrique Sobreira – Somos um clube autónomo desde 1996, mas a Ovarense já tinha sido campeã antes. O primeiro titulo foi na década de 80. É um clube que existe desde 1921. A AD Ovarense está hoje a comemorar 100 anos e o basquetebol faz parte dessa história.

Por vários motivos, os sócios procuraram autonomizar a secção de basquetebol, o que levou à criação da Ovarense Basquetebol em 1996. Hoje temos o centenário da Ovarense e os 25 anos da Ovarense Basquetebol. Somos um clube totalmente autónomo e dedicado ao basquetebol, mas temos interesse em termos sinergias com a Ovarense futebol, bem como com outras modalidades da cidade. No que respeita à Ovarense futebol, queremos fomentar algumas iniciativas para ver como poderemos aproveitar este centenário para termos parcerias em comum. Numa cidade relativamente pequena como é Ovar, mesmo com clubes autónomos, faz todo o sentido que as modalidades criem sinergias para se potencializarem umas às outras. E há interesse de ambas as direções nesse sentido.

PS – Tendo em conta a paragem das modalidades ao longo do ultimo ano, como está a ser a preparação da nova temporada desportiva?

HS – Temos uma massa adepta como não há igual em termos de basquetebol. E isso é reconhecido por toda a gente. Temos uma massa adepta apaixonada e que percebe do jogo. Sem adeptos a intimidação do clube, no bom sentido, perde-se. Mas ao que tudo indica vamos ter o regresso dos adeptos e isso será uma força extra para a nossa equipa, sobretudo para tentar diminuir o fosso que existe com equipas que tem um poderio financeiro superior.

A pandemia criou dificuldades à sociedade geral e local. A Ovarense depende muito da sociedade local e tem de criar formas de potenciar os apoios locais, percebendo o contexto onde estamos inseridos.

Na nossa direção definimos para isso quatro pilares, sendo o primeiro a competitividade. A Ovarense tem uma história incrível no basquetebol, é o único clube sempre presente na primeira divisão. Mas mais que estar presente na primeira divisão, queremos lutar pelos objetivos possíveis: ter uma equipa no playoff e a morder os calcanhares nas taças e em todos os jogos que disputamos.

O segundo pilar é a sustentabilidade. Tudo tem de ser devidamente ponderado, sem loucuras e sem dar um passo maior do que a perna. E os adeptos percebem isso. Queremos trepar lugares e estarmos mais próximos de equipas de topo.

Terceiro pilar: mobilizar a cidade. Queremos o pavilhão sempre cheio e ter mais apoios também. Mas não queremos só pedir, vamos arranjar formas de retribuir quem nos apoia.

Quarto pilar: a formação. Fui formado aqui, conheço esta casa e sei o que ela contribuiu para a formação de atletas nesta cidade. Queremos continuar a formar jovens, não só como atletas, mas assim de tudo formar seres humanos. Esse tem de ser um dos grandes pilares da Ovarense.

PS – Do ponto de vista competitivo, esta crise pandémica alargou o fosso para clubes como Sporting, Porto ou Benfica?

HS – Diria que sim, mas não estou absolutamente convencido disso. É fácil que o fosso seja alargado com a pandemia. Mas os clubes ditos mais pequenos que trabalharem bem, podem ter armas combater esse alargamento de fosso. Mas é preciso trabalhar bem. Temos de trabalhar para diminuir o fosso que existe.

A Ovarense o ano passado esteve no play out, para não descer e a Ovarense não quer estar ai. Queremos estar no playoff e temos de trabalhar para isso.

PS – Este ano o clube vai tentar recuperar os sócios e atletas que perdeu com a crise pandémica? Uma realidade que se assistiu em praticamente todos os clubes.

HS – Vai ser em breve lançado uma campanha para recuperar sócios. Queremos fazer com que os sócios que deixaram de pagar cotas regressem ao clube. Queremos aumentar o numero de sócios também. Vamos ter uma campanha de angariação, que será agressiva, mas no bom sentido.

A perda de sócios pagantes com a pandemia foi um problema para o clube e precisamos deles para a próxima temporada.

No que respeita a atletas, fomos dos clubes com menor quebra. Mas estamos a trabalhar na mesma em iniciativas para aproximar a comunidade juvenil ao basquetebol. Iniciativas que se faziam no meu tempo e que devem voltar a ser feitas.

PS – Aveiro tem perfume para termos atletas de qualidade na formação?

HS – Sim. Aveiro sempre foi um distrito forte em termos de basquetebol. Vários jogadores que alimentam as seleções, vem de Aveiro. Temos aqui a Ovarense, Oliveirense, Beira-mar, Sanjoanense, temos muitos clubes fortes. Sempre foi e irá continuar a ser um distrito de basquetebol. E a Ovarense vai trabalhar para continuar a ser assim.

PS – O Neemias Queta foi draftado para os Sacramento Kings, da NBA. Trata-se de um caso à parte, ou poderá ser este o futuro de muitos outros atletas portugueses?

HS – Creio que é um caso à parte. Mas também me parece que nos últimos anos a Federação tem feito um grande trabalho para recuperar a visibilidade para da modalidade. Durante alguns anos a modalidade esteve esquecida e foi ultrapassada por outras. Mas a Federação tem trabalhado muito bem para dar visibilidade ao basquetebol.

O Neemias na NBA pode ajudar a que muitos miúdos se virem para a modalidade. Acredito que os miúdos vão olhar par ao Neemias como um ídolo e vão querer ser como ele.

Quanto a ter outro Neemias em breve, é complicado, Mas temos uma geração muito forte de basquetebolistas.

PS – Voltando à Ovarense, qual é o principal objetivo para 2021/ 2022?

HS – Ganhar o próximo jogo. Claro que queremos ganhar títulos, claro que queremos os playoffs ter sucesso nas taças, mas tem de ser jogo a jogo.

PS – O basquetebol feminino poderá ter a mesma preponderância no clube, como tem o masculino?

HS – Devolvo com uma pergunta. É o desporto feminino tão atrativo como masculino? Uns dirão que sim, outros que não. O número de adeptos que temos no masculino e no feminino nunca foi o mesmo. A visibilidade de uma equipa feminina ainda é incomparável com os masculinos.

O desporto feminino está em crescimento e ainda bem, mas um gap entre masculino e feminino. Cabe a nós tapar esse gap, mas também depende muito da sociedade. Da nossa parte vamos trabalhar para que essas diferenças se esbatam cada vez mais.

PS – O Henrique abraçou a presidência do clube há muito pouco tempo. O que é que o mobilizou assumir tal responsabilidade em 2021?

HS – Eu comecei por ser jogador do clube, fazendo dele quase a minha casa. Aliás, passava mais tempo no pavilhão do que em casa. Estive sempre próximo do clube, fui sempre sócio. Acompanho o clube desde sempre e nos últimos tempos surgiu a possibilidade de fazer parte de um novo projeto para a Ovarense. A direção não se candidatou a um novo mandato, havia falta de candidatos, e eu e um grupo de sócios não íamos deixar o clube num vazio diretivo.

O meu amor ao clube, com as circunstanciais que ocorreram relativamente às eleições, levaram a este projeto. A altura é difícil, mas é quando clube mais precisa que se vê quem são os verdadeiros.

PS – Recuando no tempo, qual é a grande memória que guarda da Ovarense com mais carinho?

HS – O primeiro campeonato, na velhinha caixinha de fósforos. Era um pavilhão pequenino mas que tornava num ambiente infernal, com um barulho ensurdecedor. Recordo-me de estar no pavilhão, com sete ou oito anos, na parte de dentro do campo, sentado na bermas com os meus colegas de equipa, a assistir ao último jogo da final contra o Benfica.

Estava a um metro da linha lateral quando fomos campeões pela primeira vez. Como jogador tenho vários momentos importantes, mas esta memória é a que guardo com mais carinho. Na época, a Ovarense não tinha a projeção nacional que viria a conseguir futuramente e ser campeão naquela altura foi um feito fenomenal de toda a gente. Começando no roupeiro e acabando no presidente.

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