Santa Maria FC, a ligação emocional do professor Neca
Antigo jogador, professor de Educação Física e treinador, Manuel Gonçalves Gomes é uma referência no futebol português. Integra atualmente os órgãos sociais do Santa Maria FC onde assume, também, o papel de mentor.
Portugal Sport: Quando é que começa a sua ligação ao Santa Maria FC?
Professor Neca: Começo a conhecer o Santa Maria no fim dos anos 50 e a ligação começa, naturalmente, aí. Na altura, o clube não tinha juvenis e em 1966 foi pedida uma autorização para eu poder jogar nos seniores, mas com 15 anos não era possível e fui para o primeiro ano de juvenis do Gil Vicente. Na altura, o Santa Maria já estava a fazer um bom investimento e no ano seguinte teve juvenis, eu ainda saí do Gil Vicente, no segundo ano, e vim para o Santa Maria. Como não podia jogar nos seniores fiquei nos juvenis e no terceiro ano fui, novamente, para os juniores do Gil Vicente. Aos 17 anos fui para a tropa e recordou-me que vinha aos fins de semana fazer os jogos dos seniores do Santa Maria. Quando acabei a tropa aos 21 anos era jogador do Santa Maria e talvez tenha sido o primeiro a ser vendido, na altura, por 12 contos ao Riopele que era uma das grandes referências do futebol português e que chegou à 1ª Divisão.
PS: Houve, no entanto, um intervalo, uma fase em que esteve mais afastado…
PN: Nunca houve um intervalo porque cresci aqui. Houve um corte quando o Santa Maria faz a minha transferência para o Riopele, um clube do concelho de Famalicão e aí a vida leva-me para o futebol profissional.Quando acabo o curso de Educação Física faço uma paragem e, ainda, venho para o Santa Maria como treinador/jogador durante um ano. Houve sempre uma ligação afetiva da minha mãe e dos amigos desta que é a minha casa. Estivesse onde estivesse, eu ia sempre ver o resultado do Santa Maria e, também, do Gil Vicente.
PS: Considera que a estratégia adotada pelo Santa Maria vai permitir ao clube voltar a tombar gigantes?
PN: O Santa Maria teve um crescimento muito difícil porque esta era uma freguesia muito pobre, rural e o clube construiu-se com muito barro, com muitas dificuldades. E se há algo que conheço são os problemas dos clubes, os erros cometidos ao longo das suas vidas. Um défice de 150 mil euros é enorme para um clube desta dimensão. O Bruno tem a visão de uma gestão cuidadosa de um clube que lhe é querido e onde jogou. Sente, por isso, a responsabilidade de uma fundação familiar que vem dos pais e dos avós. Na minha opinião, esta é a visão que é preciso ter. Primeiro criar infraestruturas, criar condições para a formação, continuar a projetar os treinadores da formação – que têm a cultura do clube e sentem as suas dificuldades – e não ir para além das suas possibilidades, isto é fundamental. Nesta base, o Santa Maria FC daqui a quatro, cinco ou seis anos vai ser um clube muito melhor, com uma boa formação e com mais condições para formar bons homens e melhores jogadores.