100 anos de Conquistas!
O Vitória Sport Clube celebrou no final do mês passado, o seu centésimo aniversário. Em mês de centenário a cidade de Guimarães não ficou em casa e vestiu o equipamento, numa prova de bairrismo singular, que pintou toda a cidade com as cores vitorianas. Confirma-se que, em Guimarães o clube número um (e único) é o Vitória SC.
Quando há uma centena de anos um grupo de jovens estudantes fundou a equipa de futebol do Vitória, certamente que estariam longe de imaginar que, décadas depois esse mesmo Vitória seria uma das mais importantes instituições desportivas do nosso país e um clube, que sem ter o mesmo nome, se confunde com a cidade de Guimarães.
Em Portugal existem três clubes que dominam a massa adepta do futebol. Os chamados “três grandes”, Benfica, FC Porto e Sporting, são instituições também elas centenárias que rapidamente conquistaram os adeptos portugueses, quebrando qualquer tipo de margem geográfica. Dessa forma e ao longo de 100 anos quase todas as pessoas em Portugal eram adeptas de um desses clubes, sendo que as restantes associações e coletividades conseguiam alguma simpatia dentro da sua população local.
O desenvolvimento do futebol de formação ajudou a aproximar a população local com os “clubes da terra”, mas havia sempre um dos “três grandes” a ocupar a preferência de uma pessoa. Exceto se essa pessoa for de Guimarães. Ao contrário das outras instituições, o Vitória SC conseguiu não só ganhar a simpatia, mas também conquistar o amor dos vimaranenses, afastando a influência de qualquer outra cor clubística. Onde nasceu Portugal o bairrismo existe e o Vitória SC é o símbolo escolhido pela população quando se trata de partilhar o orgulho de se ser vimaranense e por sua vez, vitoriano.
A devoção destes adeptos representa o verdadeiro espírito do Vitória SC e rapidamente o clube se tornou um espelho para as outras instituições, que olham para os Conquistadores como um exemplo do que deve ser a relação de um clube com a sua população.
Uma gala especial
Na celebração do aniversário do clube, cerca de quatro mil pessoas dirigiram-se para Pavilhão Multiusos de Guimarães para assistir e participar na Gala do Centenário do Vitória SC. Direção, jogadores, treinadores, lendas vivas do clube marcaram presença numa noite mágica, conduzida por Catarina Furtado, esposa do ator João Reis, um confesso adepto dos Conquistadores.
Da lista de convidados presentes, podemos incluir vários nomes, nomeadamente Pedro Proença, presidente da Liga, José Couceiro a representar a Federação Portuguesa de Futebol e Pimenta Machado, ex-presidente do Vitória SC. Outras figuras importantes da história da instituição também compareceram à Gala como por exemplo o excêntrico Paulinho Cascavel e os antigos treinadores vitorianos Manuel Machado e Manuel Cajuda, entre outros.
Depois de uma noite (e um dia) de festejos na cidade, a gala iniciou com a entrega dos emblemas de sócios de antiguidade, para 25 e 50 anos associativismo com o clube. Durante a gala várias pessoas tiveram a palavra, desde o presidente António Miguel Cardoso a André André, que além do orgulho em fazer parte da instituições nesta data história, admitem sentir uma responsabilidade acrescida com o marco. O jogador do Vitória SC confessou ainda o sonho de vencer mais uma Taça de Portugal com o símbolo de D. Afonso Henriques ao peito. Também o presidente deixou uma mensagem de forte esperança, para que os próximos 100 anos do clube sejam anos de títulos e novas conquistas. A palavra títulos foi inclusivamente uma das palavras da noite, seja pelas menções ao passado do clube, seja pela voz dos adeptos, que elegeu inclusivamente Rui Vitória, o treinador da conquista Taça de Portugal em 2013, como o técnico “do centenário”.
No meio de tanta festa e animação, um dos pontos altos da noite envolveu o capitão Bruno Varela, que não ficou à baliza e dançou com Catarina Furtado na hora de eleger o guarda-redes do centenário.
Neno e um onze repleto de craques
Quando o Vitória SC indicou que na celebração dos 100 anos clube, através de uma votação com os adeptos, iriam nomear o melhor onze e treinador do centenário do clube, facilmente se deduziu que Adelino Barros, Neno, seria o nome apontado para a baliza. Neno jogou no Vitória SC entre 1984-85,1988-90 e 1995 a 1999. Foi um guarda-redes histórico para os vitorianos, um guarda-redes que conquistou títulos em Portugal e que se manteve ligado ao clube após terminar a carreira futebolística. O ex-internacional português deixou um grande legado em Guimarães, conhecido pela sua alegria constante, carisma contagiante e uma voz que lhe garantiu a alcunha de Júlio Iglesias das balizas.
O falecimento de Neno com apenas 59 anos em 2021 deixou Portugal de coração partido e Guimarães fez questão que o ex-jogador nunca fosse esquecido. O antigo guarda-redes foi homenageado no inicio da cerimónia e ao longo de todo o ano o Vitória SC fez questão de manter viva a memória do ex-jogador, como se pode destacar com o mural de Neno no estádio D. Afonso Henriques.
Se Rui Vitória foi votado como o treinador do centenário e Neno como o guarda-redes, as outras posições seguiram a mesma tendência e as restantes posições foram ocupadas por futebolistas que representaram o clube apenas nas últimas quatro décadas. Na defesa Geromel e Tapsoba foram os centrais escolhidos pelos adeptos do Vitória SC, enquanto Dimas foi o lateral esquerdo mais votado e Ricardo Pereira recebeu a mesmo distinção, do lado direito. O meio campo pertenceu a N´Dinga, Pedro Mendes e Pedro Barbosa, figuras incontornáveis do futebol português.
O onze do melhor Vitória SC fechou com um ataque de sonho. Raphinha a extremo esquerdo, o mestre da finta curta Vítor Paneira na direita e o goleador Paulinho Cascavel como ponta-de-lança. Raphinha é hoje jogador do Barcelona e da seleção brasileira, enquanto Paneira deixou tal como Neno um legado mítico no campeonato português, com uma passagem gloriosa ao serviço do Benfica, seguindo-se uma segunda fase da carreira, ao serviço do Vitória SC, onde o craque se tornou para sempre herói em Guimarães. Por fim Paulinho Cascavel era um nome obrigatório neste onze, uma vez que o antigo avançado marcou por 60 vezes, em 76 jogos com a camisola dos vitorianos.
Motivação centenária trava força invicta
O centenário do Vitória SC coincidiu com um dos jogos mais difíceis do campeonato. O Vitória SC não teve um começo de temporada interessante, no entanto os pupilos de Moreno fizeram questão de mostrar que as contas do campeonato ainda estão a começar. No primeiro dia deste mês o Benfica veio a Guimarães com estatuto de invicto e invencível. Em 13 jogos disputados em 2022/2023 os encarnados venceram 13 e foi na cidade Berço que a corrente positiva do Benfica sofreu um percalço.
O jogo terminou 0-0, sem grandes ocasiões para golo. O Benfica perdeu os primeiros pontos e o Vitória SC empatou com o líder isolado, numa altura em que a motivação dos encarnados era forte. Mas mais importante que o resultado foi a forma como o Vitória SC banalizou uma equipa que ainda não sabia o que era não ganhar. Em nenhum momento da partida o Benfica teve superioridade ou sequer levou o perigo à baliza vitoriana. Por sua vez, o 5x4x1 resultou muito bem, pois retirou ao Benfica possibilidades de criar jogo interior, e a verdade é que a equipa de Roger Schmidt acabaria por efetuar apenas um remate à baliza em 90 minutos.
Neste jogo que marca o centenário de uma grande instituição, o herói da partida foi Bamba, que fez uma exibição monstruosa, sendo uma figura quase omnipresente em todo o campo. Dias depois do jogo, o jovem jogador de 20 anos renovou com os Conquistadores até 2026, com uma cláusula de 30 milhões de euros.