Entrevista a Catarina Lacerda – Atleta de voleibol do SC Espinho
1- Conta-nos um pouco do teu percurso no clube. Há quanto tempo representas esta coletividade e sobretudo o que é que o SC Espinho representa para ti, enquanto atleta de voleibol.
Comecei a jogar voleibol aos 12 anos, no Sporting Clube de Espinho, por influência da minha família (já lá vão 13 anos!). O meu pai e tio, Paulo e Miguel Lacerda, também jogaram voleibol no Espinho; o meu padrinho, Vitor Santos, foi jogador de futebol do Espinho… então sempre fui adepta do clube e decidi experimentar. Foi amor ao primeiro treino! A nossa equipa era muito boa e nesse ano de Mini B fomos campeãs regionais e nacionais: os primeiros de muitos títulos que ganhei pelo SCE.
No meu ano de juniores, por algumas incompatibilidades com a direção do clube, saí do Espinho e fui jogar para o Colégio do Rosário onde formaram uma super-equipa com atletas que pertenciam, na grande maioria, à seleção nacional (que representei dos meus 13 aos 16 anos). Apesar de termos vencido todos os jogos, foi talvez o ano que menos prazer tive em jogar, precisamente porque me sentia «longe de casa», longe do meu clube de coração.
Depois de 3 anos parada sem jogar, devido à faculdade, e sem perspectivas de voltar ao voleibol, recebi o convite por parte do treinador Sérgio Soares de integrar a equipa sénior do SCE, formada por antigas jogadoras do clube (algumas das quais já tinham sido minhas colegas na formação), que começaria na terceira divisão com o objetivo de subir nos primeiros anos. Cumprimos o objetivo logo na primeira época, com uma raça e querer fora de serie, que atraiu vários adeptos às bancadas e elevou o voleibol feminino do clube. Sem dúvida um grupo e uma época inesquecíveis.
Esta é a terceira época em que lutamos pelos lugares cimeiros da segunda divisão e pretendemos levar o SCE à primeira divisão, o último objetivo que falta cumprir na minha carreira desportiva.
Para mim representar um clube como o SCE é uma honra, mas também a maior das responsabilidades; quando jogamos com o símbolo do nosso clube ao peito, por amor à camisola e não ao dinheiro, a responsabilidade triplica. Cada erro ou derrota pesa mil vezes mais. Temos uma cidade inteira às costas, a Capital do Voleibol, e representamos um dos clubes com mais títulos a nível nacional. Toda a gente espera o melhor de nós. E claro que qualquer adversário teme o Espinho pela grandeza da sua história, mas a minha visão é de que este clube não pode viver do passado. Todos os dias lutamos para que as conquistas do passado sejam as conquistas do presente. Somos pequeninos em orçamento, mas inigualáveis na raça e é isso que nos torna grandes.
2- O SC Espinho é uma instituição altamente competitiva no voleibol, seja em masculinos, seja em femininos. Numa época em que as circunstâncias são tão complicadas, face ao momento pandémico que atravessamos, de que forma é que o volei feminino está condicionado, sobretudo em termos de treino e competição?
Esta época está a ser, sem dúvida alguma, a mais difícil de gerir enquanto atleta.
Na segunda divisão, o campeonato parou em meados de abril, quando íamos disputar a fase de subida, que foi adiada para quando a pandemia estabilizasse. Tínhamos feito um percurso brilhante e de repente ninguém sabia muito bem o que ia acontecer, ou como íamos terminar a época.
Algumas atletas optaram por desistir de jogar, outras por mudar de clube. Alguns clubes reestruturaram o plantel com novas atletas e treinador, como foi o caso do Espinho. E em setembro disputamos a fase de subida, com planteis completamente diferentes dos que tínhamos em abril.
Começámos a treinar em agosto e em apenas um mês tivemos de recuperar o tempo que tivemos paradas, ficar em forma para disputar a subida de divisão e adaptarmo-nos a um novo grupo e forma de jogar, o que é complicado para qualquer atleta. Especialmente para atletas como eu, que não são profissionais de voleibol e conciliam o desporto com o trabalho/faculdade, obrigando a sacrifícios pessoais como acordar de madrugada para ir ao ginásio, passar as poucas férias de verão a treinar (duas, três vezes por dia), não estar com os amigos ou família… tudo por amor ao desporto e ao clube.
Ainda que não tenhamos conseguido a subida, considero a nossa prestação muito positiva tendo em conta o contexto. E certamente treinou-nos para o que viria a ser esta época: uma constante adaptação e superação. O campeonato está constantemente a parar, quer por ordens da DGS pelo agravar da pandemia, quer por isolamento de algumas equipas. A nossa equipa, inclusive, esteve 14 dias isolada após 4 atletas terem testado positivo. Não é fácil voltar aos treinos depois de situações dessas, recuperar a forma física após constantes paragens, confiar que não nos vamos infetar ou infetar a nossa família, manter a motivação e a qualidade de jogo, gerir tudo isto com a nossa vida pessoal e profissional.
Tenho muito orgulho na minha equipa e nos nossos adversários, pois todos os dias aceitamos treinar para jogar num campeonato instável, que nunca se sabe se terá fim, com o mesmo rigor e motivação. Não é fácil, muitas vezes apetece baixar os braços… mas move-me o objetivo pelo qual voltei a jogar, depois de tantos anos parada: levar o voleibol feminino do SC Espinho à primeira divisão.

3- Olhando para as próximas temporadas, quais são as tuas expetativas enquanto atleta do SC Espinho e enquanto praticante de voleibol? Tens algum objetivo em concreto definido?
Como já referi, o meu objetivo e motivação passa por ver o voleibol feminino do SC Espinho na primeira divisão e fazer parte dessa página de história. Acredito que o conseguiremos no final desta época e tenho todos os pensamentos e energias focadas nisso. Não sei o que se segue depois. A idade começa a pesar a vontade de ter tempo para outras áreas da minha vida também. Só o tempo dirá. Mas Se o meu lugar deixar de ser no campo, estarei sempre na bancada, a torcer pelo meu clube.
4- Existe uma forte ligação da massa associativa do clube ao voleibol masculino sénior, derivado de todo o sucesso desportivo da secção no seu passado. De que forma consideras que os adeptos do clube apoiam e seguem as restantes categorias da modalidade?
Como costumamos dizer no Espinho, os adeptos jogam connosco e são um elemento chave na nossa prestação. Os seniores masculinos sempre tiveram casa cheia; nós tivemos de lutar por merecer o mesmo apoio. Ao longo destas épocas, a nossa raça e crescente qualidade foram atraindo adeptos às bancadas, muitos deles atletas da nossa formação (que para nós é ainda mais especial). Criámos uma ligação muito especial com a nossa claque, que se manteve fiel jogo após jogo e nos fez, muitas vezes, virar resultados negativos em vitórias. Ter casa cheia passou a ser uma marca nossa e fez da arena tigre um palco difícil para os adversários. Sempre ao ritmo do bombo do nosso adepto mais querido e assíduo, Vitor Gomes, a quem aproveito por agradecer todo o apoio.
Este ano, devido à pandemia, não temos os nossos adeptos na bancada, o que nos faz muita falta. Espero que na altura decisiva da época já seja possível tê-los connosco, ou não terá o mesmo gosto disputar a subida de divisão.
5- Como atleta do clube, qual foi o momento mais marcante que viveste?
Além da conquista dos campeonatos regionais e nacionais durante a minha formação, destaco dois momentos marcantes para mim:
» partilhar o campo com a minha irmã, que é 4 anos mais nova que eu (jogámos duas épocas juntas nas seniores do SCE, entretanto ela deixou de jogar devido a uma lesão)
» a subida de divisão, da terceira para a segunda, no primeiro ano da nossa equipa de seniores femininos. Ganhámos 3-1 ao arcozelo, com casa cheia. Nunca me hei-de esquecer dos nossos apoiantes a abanar ramos de eucalipto na bancada, enquanto cantavam o famoso «Cheira a Eucalipto…» estou arrepiada só de escrever!!! Mas como disse, o clube não pode viver do passado. O que importa agora é repetir o feito e levar o Espinho ao mais alto patamar, onde realmente deve estar.
