“Paramos é perfeito para Surfar e estar em contacto com a Natureza”
Entrevista a Pedro Melo – Paramos Surf School
Portugal Sport – Como é que o surf entrou na tua vida? Sabemos que existe uma história muito peculiar nesse sentido.
Pedro Melo – Tudo começou na altura da primária vinha sempre com os meus amigos jogar à bola para a praia. Um dia no mar, um dos meus amigos foi puxado pela corrente e numa tentativa de o salvar, acabamos todos em perigo. Os meus amigos conseguiram agarrar-se às pedras, eu continuei a ser puxado pela corrente e acabei salvo por um surfista. Uma pessoa que eu não conhecia.
Eu devia ter uns sete, oito anos e foi um momento insólito e inesquecível. O surfista tirou-me da corrente, apanhou a onda e o meu primeiro contacto acabou por ser aí. Foi uma sensação de tal forma marcante qual fiquei logo ligado ao mar e adrenalina foi tal no momento que apanhamos a onda, deslizamos o que me fez esquecer o perigo que tinha passado momentos antes. Uns anos mais tarde, com os meus pais no Algarve, eles compraram-me uma daquelas pranchas de esferovite e passei as férias de verão dentro de água. Quando voltamos ao norte, os meus pais compraram-me um novo material e comecei a juntar-me ao pessoal local, que surfava na zona. Juntamente com esse pessoal iniciamos o movimento do surf em Paramos e hoje o meu lifestyle todo está em volta do mar.
PS – Chegas-te a ser atleta de competição?
PM – Já depois de saber surfar fui viver para Espinho com os meus pais e o pessoal começou a fazer força para eu competir, apesar de que na altura gostava mais do free surf, até começar a fazer uns campeonatos regionais. E comecei a gostar, chegava quase sempre às meias finais e finais até que venci uma etapa de um regional em Espinho. Foi especial. Participei numas competições nacionais, com alguns bons resultados. Ainda assim, consegui ser campeão regional no Furadouro, da Animalsurfshop em 2005/06
PS – Como surgiu o projeto da escola de surf?
PM – Este projeto não vem de agora. A primeira vez que avancei com um projeto desde género foi em 2006, quando era patrocinado pela Genesis, estava a correr o nacional e o meu patrocinador Rui Simões. “master do Bodyboard Nacional”. falou-me dessa possibilidade. Na altura falei com o presidente da Junta e avançamos com uma escola aqui em Paramos.
Depois em 2008/9 comecei a dar aulas na Academia de Surf Palheiro Amarelo com o Professor Ribeiro do externato Santa Clara Porto. Foi uma experiência cativante e que me fez gostar e crescer no âmbito do ensino da modalidade e sensibilização ambiental.
E em 2011, criei uma parceria com a Surf Jah Clube de Espinho. E durante dois anos tivemos a escola, correu super bem, fizemos dois campeonatos, o circuito regional do Grande Porto. Fiz uma parceria com a Associação Onda do Norte, onde estava envolvido o Manuel Centeno e em parceria criamos um regional onde trouxemos muita gente da zona norte. O primeiro ano correu muito bem e no segundo fiz o Bodyboard Norte Challenge, que foi muito bom, já com um grande apoio da ONDA, que nos emprestou uma carrinha adaptada para os júris, e também conseguimos sistema de júri da Refresh de topo. Tivemos cá atletas como o Manuel Centeno, Tiago Ramirez, Rui Mendes, Tiago Silva, Bernardo Machado e Ricardo Faustino, a nata do bodyboard do Norte.
Nessa altura a minha vida também mudou um bocado, tive de fechar a escola por motivos pessoais, mas nestes 10 anos continuei muito ligado ao surf e ao mar, a dar aulas, trabalhei no Oporto Surf Camp, Surfing Life, Maceda Surf Camp, Espinho Surf in Company e em Carcavelos, na Angels Surf School. Fui também nadador salvador nas praias de Espinho três épocas balneares, e depois em 2017 tirei o curso de treinador de surf onde aprendi imenso, e claro depois de muitos anos a trabalhar para os outros, senti a necessidade de ter o meu negócio e pôr em prática o meu conhecimento no meu projeto, na minha Praia da Capela.
Sou um apaixonado pela praia de Paramos, na qual tenho uma ligação brutal e especial, com as pessoas locais e com esta praiam que na verdade foi onde o Bodyboard Surf começou para mim. Paramos têm muito potencial e é um grande spot para surfar, com pouco crowd. O que é bom, temos aqui um pequeno paraíso e a praia é perfeita para se desfrutar ao máximo do surf e estar em contacto com a Natureza.
E ainda temos a linda Lagoa de Paramos / Barrinha de Esmoriz, onde podemos volta e meia surfar uma onda estática. Temos várias atrações desde do Mar /Surf à Lagoa, do hipismo ao aeródromo …
E neste último ano, mais introspetivo, provocado pela pandemia, surgiu a ideia de voltar com a escola. Assim foi e cá estamos com a ESP,sendo que este verão correu muito bem. Apesar de no fundo só ter estado aberto dois meses, o balanço foi ótimo, apareceram muitas pessoas, houve um bom feedback e nesse sentido, também sou grato aos meus patrocinadores e parceiros Surfjah, que permitiram que este projeto fosse possível. Foram fundamentais para o investimento inicial e estarei sempre grato a quem me ajudou.
Estou super contente e com o foco de que para o ano quero estar ainda mais forte.
PS – Como caracterizas a filosofia da Paramos Surf School?
PM – A nossa filosofia é simples, a paixão pelo desporto, pelo mar e pela natureza. E o respeito pela mesma. Respeitar o meio ambiente, tentamos ter essa sensibilidade e passar isso a quem vem à nossa escola. Um surfista têm de ter esse tipo de preocupação e uma certa responsabilidade ambiental. Temos de estar preocupados em ter a nossa praia e oceanos limpos e passar essa mensagem a todas as pessoas.
Também é muito importante ensinar o praticante a ler o mar e a perceber um pouco sobre as condições e características da praia, ou do spot que vamos surfar. Uma pessoa que aprenda a surfar connosco, também vai ficar com a responsabilidade de saber como agir noutros sítios spots, perante outros surfistas e o mais importante, perante a Natureza.
PS – O Surf é um desporto para qualquer pessoa?
PM –Claro que sim, podemos dar aulas tanto a um miúdo de cinco ou seis anos, como 50 ou 60 anos. Tudo depende da pessoa, mas não existe grandes restrições. Há pessoas com maior aptidão para desporto e para surfar e com elas a iniciação é fácil. Por outro lado, há algumas pessoas que tem mais dificuldade e demoram mais tempo a lá chegar. Mas toda a gente pode aprender a surfar.
PS – Além dos benefícios para a saúde física de uma pessoa, o surf pode também trazer benefícios para a saúde mental de um praticante?
PM – Tenho a certeza que sim. O surf promove o equilíbrio entre a saúde mental e física. Aliás, uma pessoa para estar bem mentalmente, tem de estar bem fisicamente e vice-versa. E onda após onda, um surfista supera vários obstáculos quando vai para o mar e essa capacidade de superação é importante mais tarde, refletindo-se no seu dia a dia.
PS – Quais são as tuas perspetivas daqui para a frente?
PM – O objetivo é continuar a trabalhar na mesma linha, com paixão e respeito pela mãe natureza. Sei que é o primeiro ano, mas a ideia é manter o trabalho que tem sido desenvolvido até ao momento. Vamos também criar novas dinâmicas, vamos criar umas sinergias entre surf e yoga.
E não vamos esquecer a sensibilização ambiental.
Desde já agradeço a todos aqueles que sempre que me apoiaram, e que fizeram parte desta caminhada e a tornaram mais especial e inesquecível.
Quero fazer um agradecimento muito especial à minha namorada, Paula Soares “SURYA”, por estar sempre presente no dia a dia da ESP e pela forma que te envolveste e abraçaste o projeto desde do início!
Aloha